Livro 5.º B

A aventura de um rato a bordo da nau

Mas nem tudo foi mau, os marinheiros e eu observamos coisas espantosas, como peixes-voadores e ferozes tubarões, cujos dentes eram tão aguçados que me puseram os pelinhos em pé. No céu vimos, pela primeira vez, a constelação do Cruzeiro do Sul. Maravilhosa! O Brasil era muito frondoso, o clima quente e agradável e os seus povos encantadores. Andavam nus e não tinham maldade, usavam arcos e flechas, enfeitavam-se de penas e pinturas. Dormiam em redes e amavam a liberdade, assim como eu. Da terra vinham cheiros maravilhosos a frutos e sementes, que até me faziam arrebitar os bigodes. Entramos em contacto com os indígenas e fizemos algumas trocas de produtos. Eu aproveitei para dar uma volta pelas praias e roer algumas frutas que não conhecia, mas adorei aqueles sabores exóticos.&nbsp;

Naquele tempo, a forma da Terra era desconhecida. Por causa disso, as opiniões quanto à sua forma eram várias, havia até quem achasse que era plana como o tampo de uma mesa. Porém, Fernão de Magalhães acreditava que a Terra era redonda como uma laranja e que era possível fazer a circum-navegação. Certo dia, ao consultar um mapa de um cosmógrafo alemão, descobriu uma passagem no continente Americano que ligava o oceano Atlântico a um outro, ainda desconhecido. Ao saber dessa passagem, logo Fernão de Magalhães quis partir, mas como D. Manuel I, rei de Portugal, não o apoiou, partiu para Sevilha para apresentar a sua proposta ao rei de Espanha, Carlos I. Quando Fernão de Magalhães entrou no palácio real de Castela, ficou espantado com a beleza daquele local. Foi levado a uma enorme sala, onde o imperador se encontrava sentado num trono brilhante e majestoso. Depois de muito falar, chegaram a um acordo, o imperador ajudava-o, fornecendo-lhe cinco naus:&nbsp;Trinidad, Concepción, San António, Victoria e Santiago.

Na viagem rumo ao sul, o comandante da expedição, Fernão de Magalhães, e toda a tripulação das cinco naus, e eu próprio, sofremos uma grande desilusão. Vimos uma grande língua de água a entrar pela terra dentro e pensamos que era a tão desejada passagem. Seguimos por ela, mas afinal descobrimos que navegávamos em água doce, era apenas um largo rio. Fernão de Magalhães andava muito aborrecido, porque não conseguia descobrir o estreito que ligava os dois oceanos. Eu até estava com pena dele! Os dias iam escurecendo como carvão e o tempo ia-se tornando mais agreste. As noites eram geladíssimas; nem eu nem os meus amigos ratinhos conseguíamos dormir com aquele frio. Brrrr… Na manhã seguinte, ouvi umas vozes no convés e decidi espreitar. Uns diziam “Olha aqueles albatrozes!”, outros gritavam “Olha os pinguins!” e outros comentavam “Olha aquelas focas, que lindas que são!”. De repente, veio uma tempestade assustadora e nós ficamos amedrontados com tudo aquilo.&nbsp;

Após a morte de Fernão de Magalhães, Henrique, o seu escravo e amigo, foi muito maltratado pelos marinheiros ao comando de Elcano. Desiludido porque não cumpriram o desejo de Magalhães que queria que ele tivesse a liberdade à sua morte, acaba por atraiçoar e abandonar os portugueses que o maltrataram. Finalmente, os portugueses chegam às tão desejadas ilhas Molucas. Era o dia 6 de novembro. Ali, carregaram todos o cravinho que puderam e outras especiarias igualmente valiosas. A viagem de volta não tem história, o caminho marítimo era já de todos conhecido, muito usado pelos portugueses, desde a descoberta de Vasco da Gama. O regresso ao ponto de partida, a baia de Sanlúcar de Barrameda, foi no dia 6 de setembro de 1522. Para minha sorte e de 18 homens, a nossa nau, a Vitória, foi a única sobrevivente desta tão grande aventura. Quanto a mim, esta foi a minha última viagem de porão, resolvi reformar-me e dedicar-me a escrever as minhas aventuras.

Autores Abel Barbosa, Alexandre Eira, Bárbara Gomes, Carolina Duarte, Cátia Araújo, Daniela Barata, Filipe de Souza, Gabriel Mesquita, Guilherme Monteiro, Inês Ferrete, Maria Inês Fernandes, Maria João Louro, Maria Manuela Taxa, Mariana Costa,Miguel de Souza, Mónica Giesteira, Nuno Miguel Brás, Rodrigo Gomes, Simão Pereira, Tiago Ferreira

Projeto "Ideias com Mérito "Construir s@beres na Biblioteca Escolar" em articulação com as disciplinas de Português, HGP, Educação Visual do 5.º ano Escola Básica Mosteiro e Cávado 2019/2020

Havia já três meses e vinte dias que navegávamos no Oceano Pacífico. Só nessa altura é que entendi por que razão lhe deram o nome “Pacífico”, já que é tão calmo como um lago. Os marinheiros estavam aborrecidos, pois, como não havia vento, não se conseguia navegar. Tudo estava a correr mal, os marinheiros estavam sem comida e sem bebida, a pouca água que havia cheirava mal, a comida igualmente. Nem eu, que sou um ratinho e que como de tudo, conseguia suportar o cheiro! Ugh! Que pena que eu tinha dos marinheiros, começaram a ficar com as gengivas inchadas, os dentes começaram a cair-lhes e não conseguiam alimentar-se. Ouvi dizer que era uma doença chamada escorbuto. Quando a comida acabou, passaram ao plano B: apanhar os ratos! Tinha de redobrar os meus cuidados, se antes tinha receio de ser mandado borda fora, agora receava acabar na panela.

Créditos Com recurso a ferramentas de criação de conteúdo digital: Book Creator StoryboardThat Ilustração: Maria Inês Fernandes Referências bibliográficas 500 anos da circum-navegação de Fernão Magalhães. SIC Notícias. Disponível em linha: <a href="https://sicnoticias.pt/pais/2019-08-10-500-anos-da-circum-navegacao-de-Fernao-Magalhaes">https://sicnoticias.pt/pais/2019-08-10-500-anos-da-circum-navegacao-de-Fernao-Magalhaes</a>, consultado em: 10 de novembro de 2019 Cadilhe, Gonçalo - Nas Ilhas das Especiarias - Chegada dos Portugueses às Molucas. Disponível em linha: <a href="https://ensina.rtp.pt/artigo/na-rota-das-especiarias/">https://ensina.rtp.pt/artigo/na-rota-das-especiarias/</a>, consultado em: 26 de outubro de 2019 Claybourne, Anna - A história dos grandes exploradores. 2.ª ed., Texto, 2017. Kespert, Deborah - Explorar! As viagens mais perigosas de todos os tempos. 1.ª ed., Círculo de leitores, 2017. Ribeiro, João - Fernão de Magalhães- Eu não sirvo Castela, sirvo o mundo inteiro. 1.ª ed., Opera Omnia, 2017. Soares, Luísa - Fernão de Magalhães: o circum-navegador.1ª ed., APCC - Associação para a Promoção Cultural da Criança, 2018. Thomas, Isabel - Pequenos Livros sobre Grandes Pessoas: Fernão de Magalhães. 1.ª ed., Fábula, 2019.

Olá. Eu sou um rato, mas não sou como todos os outros. Podem não acreditar, mas eu estive na nau que realizou a primeira circum-navegação, com Fernão de Magalhães. Nessa viagem vi coisas novas, terras maravilhosas, pessoas diferentes e fiquei a saber a história de Fernão de Magalhães. Que sabes sobre ele? Pois eu ouvi histórias de marinheiros que contaram que Fernão de Magalhães nasceu em 1480, na Vila de Sabrosa e que era um nobre, mas de baixa fidalguia. Diziam que já em pequeno gostava das navegações. Quando foi para Lisboa, via o bulício da construção naval, assistia à largada das armadas e escutava histórias sobre os navegadores. Quando Fernão de Magalhães ouvia aquelas histórias, ficava fascinado e pensava que um dia seria marinheiro. Aos vinte e cinco anos concretizou o seu sonho e foi para a Índia. Ali comprou um rapaz de pele escura que trouxe para Portugal como escravo. Batizou-o com o nome Henrique e, desde aí, nunca mais se separaram. De regresso a Portugal, foi recebido na Corte, mas não foi muito bem aceite e a relação com o rei D. Manuel tornou-se, cada vez, mais fria.

Pelo que me contaram, Fernão de Magalhães era um homem muito corajoso e participou em várias batalhas. Numa das batalhas, em África, Azamar, foi ferido num joelho e ficou incapacitado para a guerra. E, por isso, ficou encarregado de guardar as ovelhas e cavalos roubados ao inimigo. Certo dia, foi acusado de ter vendido os animais que devia ter guardado. Então, sentiu-se injustiçado e decidiu apresentar-se ao rei para provar a sua inocência e pedir o aumento da mesada. Aproveitou também esse encontro para propor-lhe chegar às ilhas das Especiarias por ocidente, coisa que nunca ninguém tinha feito, nem julgava possível.

No dia 20 de setembro de 1519, vi pela primeira vez, Fernão de Magalhães. Entramos muito alegres na nau, porque íamos viver uma grande aventura. Fernão de Magalhães, ao fazer esta viagem de circum-navegação, ia provar que a Terra era redonda. Estávamos muito animados no porto de Sanlúcar de Barrameda. O dia estava luminoso e havia festa no porto, onde víamos as cinco naus enfeitadas. Os duzentos e trinta marinheiros estavam eufóricos com a partida. Os familiares dos valentes marinheiros foram despedir-se de irmãos, filhos e pais. Eu, um simples ratinho do porão, vibrei de emoção ao ver esta despedida. Depois, fui esconder-me atrás de uma pipa de vinho, na nau Vitória. Navegamos durante algum tempo e a primeira paragem foi nas Ilhas Canárias. O tempo estava tão bom que eu até me deitei ao sol para aquecer o meu pelinho. A viagem continuava, passamos por Cabo Verde, Serra Leoa e, finalmente, chegamos ao Brasil. Digo finalmente, porque antes tivemos um contratempo, uma enorme clamaria que durou quinze dias, o que não permitiu que os barcos avançassem durante dias.

Mas chegou o dia em que avistamos terra. Foi uma alegria! Comida e água fresca, convívio com pessoas estranhas e possibilidades de comércio. Tudo parecia correr bem! Porem, no dia 24 de abril de 1521, Fernão de Magalhães e seus homens decidiram invadir a ilha de Mactan, apenas porque não queriam pagar o imposto que o rei daquela ilha pedia para poderem estabelecer relações comerciais. Estava eu no porão à procura de uns restinhos de cereais, quando ouvi uns gritos tremendos! Corri a sete patas para o convés e vi uma grande confusão naquela ilha, governada por Lapu-Lapu. Subi a um pipo para ver melhor e concluí que Fernão de Magalhães e os seus homens estavam a lutar contra os ilhéus. Uns atiravam setas, outros lanças... Eu até tive que me desviar porque ia sendo atravessado por uma seta. Cheio de medo, ia voltar para o porão, mas, de repente, ouvi um grito enorme. Tinha acontecido uma desgraça, de certeza!&nbsp;Voltei para cima do pipo e reparei que Fernão de Magalhães estava morto. Nem queria acreditar!

Quando Fernão de Magalhães e os marinheiros aportaram nas terras da Patagónia, o tempo estava horrível. Eu, um simples rato do porão, bem peludinho, também senti as orelhas e os bigodes enregelados. Aquelas terras geladas, de invernos rigorosos provocaram em toda a tripulação grandes constipações, resfriados, pneumonias e febres muito altas. Enquanto os nossos homens consertavam as velas e os cascos das naus, chegaram até nós cinco habitantes da Patagónia que também estavam muito doentes. Eu assustei-me com o seu aspeto: eram grandes, esquisitos e com os pés enormes. Escondi-me dentro do que restava de um saco de farinha. Os cinco doentes pediram ajuda ao nosso comandante. Ele mandou chamar o barbeiro de bordo, que costumava tratar destes casos. O barbeiro pediu que lhe dessem panos embebidos em água e vinagre e colocou-os na testa dos doentes. Depois colocou-lhes um óleo no corpo. Em seguida, deu-lhes a beber uns chás feitos de ervas que ele tinha trazido da sua terra. Deu-lhes mais algumas mezinhas e rezou algumas orações. A pouco e pouco, os doentes começaram a ter menos febre e a ficar com mais energia. Alguns já se conseguiam sentar nas tarimbas.

Entretanto, Fernão de Magalhães enviou duas naus para fazer a exploração de uma reentrância de água salgada naquela terra gelada. Não parecia muito larga, mas podia ser a passagem que procuravam. De facto, era a passagem para o oceano desconhecido, e todos respiravam de alívio! Quanto a mim, este simples ratinho do porão, fiquei alegre por ver tanta gente contente e até esqueci todas as coisas tristes e as más memórias do que nos tinha acontecido. Os marinheiros também estavam felizes por terem, finalmente, passado o estreito, ao qual deram o nome de “Magalhães”, uma passagem com cerca de seiscentos quilómetros. À noite, houve rancho melhorado e até eu, um simples ratinho, comi como se fosse um abade.&nbsp; Os familiares daqueles cinco habitantes da Patagónia ficaram tão agradecidos que ofereceram ao barbeiro e aos seus marinheiros peles de foca e óleo de lontra, o que para eles era muito precioso.

O livro digital que está prestes a ler, é o resultado de um caminho que os alunos do quinto ano percorreram com muito entusiasmo e vontade de aprender. Aceitamos o desafio da RBE «Navegar com a Biblioteca Escolar » para comemorar os 500 anos da Viagem de Fernão de Magalhães e, por outro lado, demos continuidade ao projeto «Construir saberes na Biblioteca Escolar.» Muitas foram as etapas percorridas. Ler, compreender as mensagens dos textos, tomar notas, resumir, pesquisar para selecionar e retirar informação, escrever e reescrever textos narrativos, utilizar a Drive e o e-mail, trabalhar com o Storyboardthat. Podemos dizer que este livro é uma viagem dentro da viagem, pois os alunos embarcaram na descoberta de Fernão de Magalhães, fazendo eles próprios um caminho de construção de saberes e, sobretudo, aprendendo a construir laços com os colegas e professoras. Boas leituras

Name

Safari may block some audio or video from playing automatically and ‘read to me’ will skip these. You can configure this in Safari’s preferences.