 Livro 5.º C

Naquele tempo, pensava-se que a Terra era plana, mas Fernão de Magalhães acreditava que a Terra era redonda como uma laranja e que era possível fazer uma viagem de circum-navegação. Será que Fernão de Magalhães tinha razão? Fernão de Magalhães pegou num mapa de um cosmógrafo alemão e viu que o continente americano ligava dois oceanos: o Atlântico e um outro, desconhecido, e que nenhum navegador conseguira descobrir. Assim, resolveu tentar a sua sorte e, como não recebeu o apoio da sua pátria e do seu rei, D. Manuel, partimos, além fronteiras, até Sevilha, acompanhados pelo seu amigo Henrique, à procura da concretização do seu sonho. Já na presença do Rei D. Carlos, o meu amo expôs a sua ideia de provar que a Terra era redonda, viajando por mar até às “Ilhas das Especiarias” por Oriente. O que terá pensado o rei, “coitado, mais um louco!” Mas, curioso no que aquilo poderia dar, concedeu-lhe uma frota de cinco navios: a “Victoria”, a “Trinidad”, a “San Antonio”, a “Concepción” e a “Santiago”.&nbsp;

Depois de partirmos da minha terra natal, fomos navegando para sul. Encontramos uma corrente que era só de água doce e estávamos no domínio de homens canibais. Ai que desilusão o meu dono sentiu! Pensou que já estava no Estreito de Magalhães mas, afinal, ainda não tinha lá chegado. Continuamos a navegar para sul, onde o clima era mais agreste e gelado. Ai que frio! Até as minhas penas ficaram congeladas! Nem queria acreditar nas aves gigantes que vi: albatrozes e pinguins… que estranhos que eram! Seriam meus parentes? Tudo ali era estranho, incluindo outros animais que vimos: as focas. Com tudo isto e vendo que não chegaríamos a lado nenhum, iniciou-se um burburinho entre os marinheiros. Hum! Aquele Mendonza nunca me enganou… queria incitar os marinheiros à rebelião. Mas o meu amo, mais inteligente, descobriu toda a trama e, rapidamente, os dominou. Foi horrível! Do alto do mastro assisti ao castigo que aqueles que se viraram contra o Capitão Fernão de Magalhães sofreram. Bem, assistir, não foi bem assim, pois estive todo o tempo com os olhos tapados pelas minhas belas plumas coloridas… mas contaram-me: Mendonza foi morto à frente de todos para que servisse de lição a quem mais tivesse ideias, outros foram abandonados numa praia isolada. Ui! Qual dos dois o pior castigo!

Abalados, continuamos viagem agora sob o comando de Juan Sebastián Elcano. E, no dia 21 de Dezembro, chegamos, finalmente, ao destino tão almejado pelo nosso capitão Fernão de Magalhães: as Ilhas Molucas. Apenas as duas naus restantes, “Trinidad” e “Victoria”, chegam ao destino e fazem um enorme carregamento de especiarias. O regresso a Espanha inicia-se no mês seguinte. Na viagem de volta,&nbsp;contornamos o Cabo da Boa Esperança a 19 de maio de 1522 e, no dia 7 de setembro, somente 18 homens regressam ao porto de Sanlúcar, em Espanha. Embora Fernão de Magalhães não tenha chegado pessoalmente à&nbsp;ilha&nbsp;das especiarias, a sua tarefa foi cumprida, chegou bem perto e demonstrou que o mundo era redondo. Ficará sempre na minha memória e, com certeza, na história do mundo como o primeiro homem (e eu o primeiro papagaio – eh!eh!) a realizar a viagem de circum-navegação através dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, em busca de um novo caminho para as Índias. E eu? Bem, eu ganhei a liberdade! Assim que cheguei ao porto de Sanlúcar estava a partir um barco rumo ao Brasil. E lá fui eu, viver o resto dos meus dias na minha terra natal, com os meus outros familiares papagaios! Apareçam, venham visitar-me!!

Autores Capítulo 1: Gonçalo Dias e Rodrigo Coelho; Capítulo 2: Ariana Alves, Lara Rodrigues e Maria Roriz; Capítulo 3: Afonso Silva, André Ferreira e Leandro Soares; Capítulo 4: Beatriz Pereira e Inês Ferreira; Capítulo 5: Francisco Teixeira, Rafael Pereira e Tomás Montez; Capítulo 6: Joana Ferreira e Sara Oliveira; Capítulo 7: Carolina Coelho e Joana Mota; Capítulo 8: Gabriela Ferreira e Lara Gomes.

Projeto Ideias com Mérito - "Construir s@beres na Biblioteca Escolar" em articulação com as disciplinas de Português, HGP do 5.º ano Escola Básica Mosteiro e Cávado 2019/2020

Apesar de termos perdido a nau Santo Antonio que tinha os nossos alimentos, ficamos felizes porque descobrimos um oceano calmo, límpido, longo e azul, ao qual o meu amo deu o nome de Oceano Pacífico. Foi um dia que eu e o meu amo não esqueceremos; até ele, um homem corajoso e rijo chorou de alegria, no dia 28 de novembro de 1520. Estávamos com muita fome e o tempo passava, sem que encontrássemos uma ilha para nos abastecermos de água potável e alimentos para recuperarmos forças.&nbsp;Pela falta destes recursos, muitos marinheiros tinham escorbuto; as suas gengivas inchavam e ganhavam manchas pelo corpo. Até a mim o bico começou a doer e as penas a cair.&nbsp; Poucos dias depois, finalmente avistei uma ilha e avisei o meu capitão. Essa ilha chamava-se Aguada dos Bons Inícios. Desembarcamos, e ainda bem que tínhamos o escravo Henrique, porque ele percebia a língua dos nativos. A ilha possuía muitos recursos essenciais, como água, alimentos e muitas riquezas.

O livro digital que está prestes a ler, é o resultado de um caminho que os alunos do quinto ano percorreram com muito entusiasmo e vontade de aprender. Aceitamos o desafio da RBE «Navegar com a Biblioteca Escolar» para comemorar os 500 anos da Viagem de Fernão de Magalhães e, por outro lado, demos continuidade ao projeto «Construir saberes na Biblioteca Escolar.» Muitas foram as etapas percorridas. Ler uma obra literária, compreender a mensagem do texto, tomar notas, resumir, pesquisar para selecionar e retirar informação, escrever e reescrever textos narrativos, utilizar a Drive e o e-mail, trabalhar com o Storyboardthat. Podemos dizer que este livro é uma viagem dentro da viagem, pois os alunos embarcaram na descoberta da viagem de Fernão de Magalhães, fazendo eles próprios um caminho de construção de saberes e, sobretudo, aprendendo a construir laços com os colegas e professoras. Boas leituras

Créditos Com recurso a ferramentas de criação de conteúdo digital: Book Creator StoryboardThat Ilustração: Joana Mota Referências bibliográficas 500 anos da circum-navegação de Fernão Magalhães. SIC Notícias. Disponível em linha: <a href="https://sicnoticias.pt/pais/2019-08-10-500-anos-da-circum-navegacao-de-Fernao-Magalhaes">https://sicnoticias.pt/pais/2019-08-10-500-anos-da-circum-navegacao-de-Fernao-Magalhaes</a>, consultado em: 10 de novembro de 2019 Cadilhe, Gonçalo - Nas Ilhas das Especiarias - Chegada dos Portugueses às Molucas. Disponível em linha: <a href="https://ensina.rtp.pt/artigo/na-rota-das-especiarias/">https://ensina.rtp.pt/artigo/na-rota-das-especiarias/</a>, consultado em: 26 de outubro de 2019 Claybourne, Anna - A história dos grandes exploradores. 2.ª ed., Texto, 2017. Kespert, Deborah - Explorar! As viagens mais perigosas de todos os tempos. 1.ª ed., Círculo de leitores, 2017. Ribeiro, João - Fernão de Magalhães- Eu não sirvo Castela, sirvo o mundo inteiro. 1.ª ed., Opera Omnia, 2017. Soares, Luísa - Fernão de Magalhães: o circum-navegador.1ª ed., APCC - Associação para a Promoção Cultural da Criança, 2018. Thomas, Isabel - Pequenos Livros sobre Grandes Pessoas: Fernão de Magalhães. 1.ª ed., Fábula, 2019.

Diário de um papagaio

Sou um belo papagaio com penas amarelas, vermelhas e verdes, um autêntico arco-íris. Como todos os papagaios, gosto muito de falar. Falo pelos cotovelos, não falo pelas penas! O meu dono está farto de me ouvir falar… E tu? Estás disposto a escutar a minha extraordinária história? Eu sei que todas as crianças adoram ouvir histórias! Ora ouve esta. Fernão de Magalhães foi o herói desta história que vos vou contar. Nasceu no ano de 1480, na verdejante e calma vila de Sabrosa. Como era filho de fidalgos, os pais costumavam embalá-lo com belíssimas histórias passadas no mar. À medida que foi crescendo, foi gostando cada vez mais de viagens marítimas. Fernão de Magalhães adorava observar o bulício da construção naval e sentia-se extremamente feliz quando assistia à largada das armadas. Aliás, o seu herói era Vasco da Gama e o seu sonho era ser como ele e ser capaz de viajar para terras longínquas. Quando fez vinte e cinco anos, Fernão de Magalhães concretizou o seu sonho, participando na sua primeira viagem marítima, que teve como destino o Brasil. Foi aí que, num mercado de escravos, comprou o malaio Henrique para o seu serviço. No regresso a Portugal, e devido à relação menos boa com D. Manuel, decidiu embarcar novamente, com destino a África.

Diário de um papagaio

Em África, Fernão de Magalhães ficou incapacitado enquanto combatia os mouros na conquista de Azamor e também foi acusado de ter vendido cavalos e ovelhas. - Coitado do meu dono! Será verdade que ele vendeu ovelhas e cavalos? Fernão de Magalhães regressou ao reino de Portugal para pedir uma audiência ao rei, declarando-se inocente de todas essas acusações. Chegado ao palácio de D. Manuel, Magalhães ajoelhou-se perante o trono do seu rei e disse-lhe: - Sua majestade, por tudo o que passei em terras de África, exijo um aumento na minha mesada. Também, tenho comigo uma ideia que gostaria de partilhar com vossa excelência, o “Venturoso”: chegar às ilhas Molucas por Ocidente. Porém, D. Manuel respondeu-lhe com toda a arrogância: - Não me interessam as tuas ideias! O que fizeres fá-lo longe daqui! Fernão de Magalhães não perdeu a esperança e dedicou-se a consultar mapas secretos e falar com capitães de navios. Dias e noites, noites e dias testemunhei eu a dedicação do meu amo ao sonho que um dia desejava cumprir. Até que, depois de tanto ponderar no seu plano teve uma ideia: - Quem me poderá ajudar nesta aventura és tu, meu grande amigo Ruy Faleiro, um notável astrónomo. E juntos dedicaram-se àquela aventura.

Começava o dia vinte de setembro de mil quinhentos e dezanove e lá estava eu empoleirado no mastro da nau Victoria, em Sevilha. Estava um dia ensolarado e sem qualquer nuvem no céu, um bom dia para começar uma expedição, pois só havia vento. Cá de cima, eu observava o povo a correr até ao porto para ver as naus saírem para a sua viagem de circum-navegação. Lá em baixo, no convés, estava uma grande confusão. Como era necessário abastecer as naus com comida e bebida, os marinheiros entravam e saíam, para trazer ou ir buscar mais alimentos. Não há dúvida, ia a armada bem equipada com alimentos, pois dar de comer a duzentas e cinquenta e seis bocas não é fácil. Levavam farinha, carne, sete vacas e três porcos vivos, barricas de queijo, amêndoas, mostarda e figos. E ainda sardinhas, bacalhau, anchovas e atum. E, claro, barris de vinho. Não se conhecia o percurso daquela viagem. Os marinheiros contavam histórias fantasiosas e um pouco assustadoras acerca dos monstros marinhos. Eu até cheguei a ouvir uma história em que diziam que os monstros gostavam de papagaios. Fiquei cheio de medo!

Após termos celebrado a missa da Páscoa na Aguada dos Bons Inícios, partimos para Mactan, no dia 27 de abril de 1521, com o objetivo de o nosso capitão converter os nativos de outras ilhas ao cristianismo. Chegados a Mactan, o chefe desta ilha recusou-se a obedecer ao rei de Espanha. Então, o meu amo preparou um ataque, ordenando que fossem incendiadas as cabanas dos nativos. - Jesus, que batalha horrível! Pareciam animais selvagens! Ai meu Deus, tantas pessoas mortas! Ai meu Deus, tantas pessoas a morrer! De repente, soou um único grito, altíssimo, e uma massa imponente de vultos lançou-se sobre nós com uma fúria selvagem. O meu coração parou por um instante. Olhei para Magalhães, que me devolveu o olhar com uma mirada trágica e hesitante. Pela primeira vez vi-o assustado. Isso bastou para que as forças me abandonassem. Os ilhéus investiram contra nós de todos os lados. Vi o meu amo caindo para a frente com a cara na água e, de uma vez só, a água encheu-se de vermelho. Oh! Que visão tão triste… o meu querido amo! Ali o tivemos de abandonar, sem que&nbsp;a um funeral cristão tivesse direito.

Fui separado da minha família e amigos quando fui levado da minha terra, o Brasil, para Portugal por marinheiros portugueses e fui oferecido ao pai de Fernão de Magalhães. Depois, ele ofereceu-me ao seu filho e, agora, aqui estou eu, na companhia de meu amo, a contar a história desta viagem de circum-navegação. Agora, voltando à nossa viagem, quando chegamos ao Brasil, fizemos muitas trocas com os nativos, tais como: um espelho por dez papagaios, uma faca por cinco ou seis galinhas e muito mais, coisas nunca vistas por estes lados que despertavam o interesse deste povo. Cada lado achava sempre que ficava a ganhar! Como os nativos eram um povo muito simpático e acolhedor passamos o Natal no Brasil, algo que eu adorei pois pude passar tempo com os meus novos amigos, os papagaios. Até que chegou o dia e, com muita pena minha, tivemos de partir para sul pois, a viagem tinha que continuar.

Depois do nosso capitão Fernão de Magalhães ter vencido a revolta, continuamos a navegar pelas terras geladas, com muito frio, neve e granizo. &nbsp;A tripulação remendava velas, consertava barcos e abastecia-se de água e lenha para se poder sustentar e alimentar. Prosseguimos viagem e ficamos todos de boca aberta quando, mais à frente, em terra, vimos uns seres gigantes e com pés enormes. Não pareciam perigosos, porém, mantive uma certa distância deles pois desconhecia, também, do que se alimentavam. Gostariam eles, por acaso, de um pássaro de churrasco? Ui! Até arrepiei as penas todas! Bem, foi por causa desses seres tão engraçados que o nosso capitão deu o nome de Patagónia a esta terra. &nbsp;Continuamos a navegar, até que o nosso comandante ordenou que duas naus partissem em reconhecimento daquelas águas e que cada uma delas devia seguir um caminho diferente quando chegasse ao ponto em que o mar bifurcava.

Partimos de Sanlúcar de Barrameda com a maré a nosso favor e esperançosos de cumprir aquilo para que nos preparamos este tempo todo. Até eu, o papagaio mais valente e aventuroso de todos os tempos me sentia invencível! Ah!Ah!Ah!... Ai! Mas se alguém pudesse prever o futuro… Dias depois de cruzar os mares, apanhamos uma grande calmaria que nos obrigou a parar durante 15 dias. Nada de vento, as velas estavam adormecidas e tivemos de esperar que o vento agitasse de novo as velas. As minhas asas quase que desaprenderam de voar, faltava-lhes o empurrãozinho do vento. E foi nesse tempo de espera que vimos tubarões, peixes voadores e até a beleza da Estrela Polar a dar lugar ao Cruzeiro do Sul. Apesar de tudo, os marinheiros estavam contentes com estas visões. Passados alguns dias, a tripulação chegou ao Brasil, o local onde eu nasci. Depois de muitos anos, finalmente, voltei a encontrar os meus velhos amigos e os meus irmãos. Bem… é uma longa história, mas aqui vai:

Querendo eu mais aventuras, pedi ao meu dono para acompanhar uma das naus. E assim, lá fui eu na nau Concepcion. Depois de quatro dias na nau Concepcion sem ver o meu dono, voltei para junto dele, mas quando chegamos lá a outra nau, a nau San Antonio, que tinha todos os nossos alimentos, não estava lá, pois havia desertado e voltado para Sevilha. Depois de algum tempo navegando nos mares, encontramos um oceano ...

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