Uma aventura

Umas horas depois senti que a minha visão ficava mais escura, era a bebida que estava a perder o efeito. O bicho amarelo apercebeu-se, pegou na rede com o lixo e começamos a nadar até à superfície. Fiquei surpreendida ao ver que um bichinho daquele tamanho conseguia carregar toneladas de lixo. A minha respiração estava ofegante quando cheguei ao topo da água.&nbsp;&nbsp; Sentei-me no barco e a bola amarela agradecia-me. Ficamos a conversar mais um tempo e quando a noite apareceu, eu voltei para casa. Fiquei de castigo por ter voltado a casa tão tarde, mas valeu a pena. Talvez vocês não deem importância a este assunto, mas tenho a certeza que alguém dará e mudará o seu comportamento. Lembrem-se: o mundo está nas nossas mãos!

Todos os pescadores que aqui vêm deixam sempre alguma coisa, mas tu não, nunca deixaste aqui um plástico que fosse! Bem, o que venho te pedir é uma tarefa fácil, se for feita com força de vontade.—Exprimiu a criatura com tristeza. A minha perplexidade transformou-se em remorso. Já tinha falado sobre o assunto na escola, mas os meus colegas não pareciam interessados, tal como o resto do mundo. A bola amarela continuou: — Toma esta taça — disse, esticando-me o tentáculo — Aqui dentro tem uma bebida mágica que te fará respirar e ver debaixo d’água por quatro horas. O meu pedido é que venhas comigo e me ajudes a limpar o mar. É impossível retirar o lixo todo, mas, pelo menos, conseguimos deixá-lo um pouco mais limpo. Então, aceitas? — Não sabia se aceitava o pedido, os meus pais sempre me disseram para não confiar em estranhos, embora aquilo que eu via, não fosse propriamente um ser humano, creio eu. Tudo na minha cabeça estava confuso, eu só estava a pescar e numa questão de segundos um bicho estranho falava comigo.&nbsp;

Numa tarde normal na minha vida, estava eu a pescar para me distrair, quando vi ao longe uma coisa estranha, parecia uma bola amarela. Comecei a remar até ela, e apercebi-me que a bola amarela tinha olhos e boca. Fiquei intrigada, nunca tinha visto algo assim. Aquilo à minha frente, também tinha uns tentáculos deformados.

O mar é cheio de segredos. Nem metade das águas do mundo foram descobertas. O que haverá nelas? Será que as criaturas marinhas de que tanto os meus amigos falam são verdadeiras? Bem, não vou dizer o meu nome, até porque duvido que vos interesse. Eu vivi uma aventura, que achei que devia contar a mais pessoas, e não guardar para a minha pequena mente. Eu adoro pescar, foi o meu pai que me ensinou. Ele está sempre a dizer que quando for grande vou apanhar peixes enormes. Ele também adora pentear o meu cabelo castanho e curto e apertar as minhas bochechas coradas. Desde que a minha mãe morreu que costumo ir para o mar, com a companhia do meu barco branco e vermelho e da minha cana de pesca. É uma forma de aliviar o stresse e não cair em lágrimas sempre que penso nela. O mar onde eu pesco tem uma água cristalina, parece um espelho. Também tem ótimos peixes e algas, que até se veem de longe, por conta da água quase transparente.

Passados uns instantes, a criatura dá um sorriso simpático e diz: —&nbsp;Olá, não sei quem és, nem tu sabes quem eu sou, mas tenho pouco tempo para falar e preciso que me ouças com atenção. Eu nem tive reação, contado assim parece que eu estava a alucinar, mas não, podem acreditar que tudo é verdade. Fiquei perplexa, não conseguia fazer nada, só ouvia aquele bicho: — Sabes que o planeta está a morrer, a água a ficar cada vez mais poluída e as crianças são as poucas pessoas que podem salvar o planeta. A água que vês parece linda não é? Mas no fundo, está toda poluída, por conta do ser humano. Os peixes estão a ser feridos por causa do lixo.

Texto de Petra Raquel Vaz Coelho do 6.º A inspirado nas Ilustrações de Sebastião Peixoto para o Manual Português 6.º ano - Livro Aberto, Porto Editora. Escola Básica Mosteiro e Cávado, 2021

Um silêncio instala-se, mas passado um tempo, a minha voz finalmente ouve-se: — Eu aceito — digo com ânimo, esticando o meu braço e pegando na taça. Olhei para a bebida. Que cor estranha, nem sabia definir qual o nome daquele tom. Quando bebi o líquido, um ardor ficou na minha garganta e olhos. Comecei a tossir em forma de desespero, e a bola amarela dizia-me para ter calma. Não sei se ela sabia, mas quando alguém está desesperado, pedir para o sujeito se acalmar não ajuda, só dá raiva à pessoa que está a sofrer. Minutos depois, o ardor passa, e o bicho atira-me para dentro do mar. A sensação de respirar debaixo d’água era estranha e boa, ao mesmo tempo. Olhei para os lados e tudo parecia normal: o mar estava lindo, as algas verdinhas e os peixes a nadar. Quando chegamos ao fundo, tudo parecia triste. A maioria dos peixes estavam mortos, as algas todas murchas e havia tanto lixo que era quase impossível nadar. Eu e a criatura começamos a juntar o lixo e a guardá-lo numa rede enorme que lá estava.

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