A rainha das sete maravilhas

Texto: Petra Coelho Ilustração : Tiago Gomes Alunos do 6.º A 2020-21 AE Mosteiro e Cávado

Na minha rua, todos os dias se passam histórias fantásticas. Podem vocês achar que exagero, que não será bem assim, que todas as ruas são iguais e os dias em todas as ruas… Pois aí é que vocês se enganam e eu vos direi porquê. Nunca fui muito social, principalmente com os meus vizinhos, mas sei o mínimo sobre eles.

Na casa à direita vive uma senhora, loira, muito simpática. Talvez ela tenha algum problema de audição ou seja simplesmente pura inocência, mas a altura da sua voz quando fala é martirizante. Do lado esquerdo vive uma família. Um casal e quatro crianças. A Dora, a Isabel, a Margarida e a Anita são lindas irmãs, uma de dezasseis, outra de quatorze e duas gémeas de doze anos. Toda a família aparenta ser bastante feliz. Também vive uma vizinha, na casa atrás da minha. Uma mulher de cabelos longos e ruivos, com uma pele branca como o cal. Ela veste sempre roupas brancas e elegantes. Não a vejo com frequência, um dos poucos momentos em que a observei, pouco me olhou, e quando o fez, olhou com um olhar de surpresa, como se estivesse a esconder algo.

Não sei explicar bem o que me aconteceu, só sei que, subitamente, eu estava num quarto, semelhante a uma espécie de ruína.

Enquanto descia uma rampa, bati com o pé em algo. Olhei para baixo e vi um livro, com a encadernação roxa. Consumida pela curiosidade, peguei no livro e abri-o na primeira página e lá estava escrito “Este livro pertence à Rainha das Sete Maravilhas”. Franzi as sobrancelhas e folheei o livro, mas nada estava escrito.

Continuei a descer a rampa, um pouco desnorteada com tudo o que tinha acontecido. Cheguei à padaria e vi de longe, a tal vizinha ruiva, com um saco com pães e uma pena, a mesma que vi nas mãos da jovem mulher que, por acaso, era bem parecida com a minha vizinha… Desculpem estar a contar esta história com poucos pormenores, mas é que o meu autocarro está quase a passar na minha paragem.

Era uma tarde ensolarada e o sol atravessava a janela da minha sala. Eu estava sentada no sofá, a ver o meu desenho animado favorito, quando a minha mãe chegou a casa. Ela gritou da cozinha que queria que eu fosse à padaria buscar o bolo de aniversário para o meu pai. Eu levantei-me, sem vontade de o fazer e dirigi-me para a porta.

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A RAINHA DAS SETE MARAVILHAS

Petra Coelho Tiago Gomes (ilustração) Junho 2021

Repentinamente senti um ardor percorrer-me as mãos. O livro saltou-me dos braços para o chão e iluminou o meu rosto com uma luz branca fortíssima, e essa tal luz sugou-me, como se eu fosse oxigénio.

Não sei explicar bem o que me aconteceu, só sei que, subitamente, eu estava num quarto, semelhante a uma espécie de ruína. O quarto era iluminado por uns candeeiros de vela. À minha frente, estava sentada uma mulher jovem, de cabelos compridos alaranjados, com uns olhos azuis e profundos, iguais ao mar. Ela estava a escrever com uma pena, num papel amarelo acastanhado. O que eu estava a ver, não parecia bem uma passagem que estava a acontecer no presente, mas sim uma lembrança. Uma coisa que me estou a lembrar agora, é das aulas de história e dos textos que já li sobre princesas e antepassados e, aquela mulher parecia imenso uma rainha. Depois de um tempo a contemplar aquela, que creio eu, ser uma rainha, uma força inexplicável puxou-me para trás e fez-me ver outra vez aquela luz branca e lá estava eu, na mesma rampa onde tinha aberto o livro.

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