Book Creator

«Quem testemunha pela testemunha?»

by Ana Inacio

Pages 4 and 5 of 10

Loading...
De seguida era-lhes dada roupa de deportados – o famoso «pijama» às riscas. Nos primeiros tempos, os deportados trocavam de roupa de modo a terem uma que lhes servisse. Nos anos finais, como já se tratava de roupas recuperadas àqueles que tinham sido seleccionados, muitas vezes não eram mais do que farrapos.
Após algum tempo, os novos detidos eram mandados para um bloco e incluídos num Kommando. O bloco era constituído por um conjunto de cabanas, geralmente de madeira, onde os internados dormiam em beliches de madeira com vários andares. Tinham de dormir várias pessoas no mesmo andar e tinham de se deitar de lado para caberem. Estes beliches podiam ter colchão, enchidos com um pouco de palha, mas o mais comum era nem sequer terem nada ou no máximo terem um cobertor. O bloco não tinha instalações sanitárias. Em certos casos, existia um balde ou uma bacia – que, quando limpa, podia servir para o «café» da manhã. 
Loading...
Loading...
Loading...
À noite os detidos estavam proibidos de se ausentarem do bloco para irem às latrinas: aqueles que arriscavam a saída podiam ser mortos se fossem apanhados. O bloco era dirigido pelos «mais velhos» (Eltern) – escolhidos pelos guardas: era responsabilidade dos Eltern destinarem os beliches e manterem a ordem no bloco. A prática rapidamente demonstrou que os deportados «políticos» se comportavam de uma forma muito mais humana nesse papel do que os criminosos comuns. Os Kommandos eram grupos de trabalho. Alguns eram permanentes, outros temporários, dependendo da natureza do trabalho que efectuavam. Também existiam Kommandos  disciplinares. Mas o essencial na sobrevivência no trabalho não era necessariamente a sua natureza ou grau de dificuldade; era antes a personalidade do Kapo que dirigia o Kommando. Alguns desses, os criminosos comuns, agiam de forma brutal, ocasionalmente, quando o Kommando saía de manhã para o trabalho, os guardas das SS instruíam o Kapo para regressar com um determinado número de mortos; cabia-lhe a escolha das vítimas, de onde e como seriam mortas.