O livro dos leitores da be-esspc

A Metamorfose - Franz Kafka, por Jeni Carneiro (Psicóloga -SPO)

No mês das Bibliotecas Escolares e também no mês em que se comemora a Saúde Mental e o Bem-Estar, recomendo a leitura de “A Metamorfose” de Franz Kafka. O livro fala da transformação da personagem principal, Gregor Samsa, um caixeiro viajante sobrecarregado pela profissão e desmotivado no dia-a-dia cansativo das rotinas laborais, que numa manhã acorda metamorfoseado num inseto gigantesco com dorso duro e inúmeras patas. Entretanto, as suas maiores preocupações são com o atraso para chegar ao trabalho e como irá continuar a sustentar a família que dele depende para pagar as dívidas. Nesta leitura, podemos encontrar analogias, metáforas e muitos traços simbólicos que nos remetem para a doença mental e para problemas que nos incapacitam ou invalidam para o trabalho. Gregor, que já se sentia oprimido na função que exercia, torna-se, depois da metamorfose, um ser inútil aos olhos da família e literalmente um parasita, passando a ser a vergonha e a sentir o desprezo de todos que habitam a casa, ao invés de justa gratidão que merecia. Incapacitado e isolado no quarto, o pobre inseto revela muitos sinais de doença (apatia, ansiedade, angústia, pessimismo, insónia, entre outras). A leitura deste pequeno livro com uma história envolvente transporta-nos a grandes reflexões que a narrativa aborda: as relações parentais, a rejeição, a solidão, a pressão do trabalho, a depressão e o inexplicável destino das pessoas… Neste mês da saúde mental, sensibilizamos para a importância de pedir ajuda quando existem sinais de alerta!

O Cavaleiro da Dinamarca - Sophia de Mello Breyner, pelos irmãos Rui e Tiago Camarão (alunos do 7º ano A)

A Vida Mentirosa dos Adultos - Elena Ferrante, por Anabela Malta (Professora de Português/Francês)

Confessamos já: nós nunca gostamos de ler. E nunca tínhamos lido um livro “inteirinho”, do princípio ao fim… Até ao dia em que, nas aulas de Português, lemos “O Cavaleiro da Dinamarca”, de Sophia de Mello Breyner. Lemo-lo todinho, parando aqui, ali e acolá para dar atenção às histórias de Vanina e Guidobaldo, de Giotto e Cimabué, de Dante e Beatriz, entre outras. Foi um livro que nos cativou da primeira à última página, pois relata a história de um Cavaleiro que, “há muitos anos, há dezenas e centenas de anos”, pelo Natal, partiu para a Terra Santa numa viagem de peregrinação. A sua viagem de regresso a casa e à família foi muito atribulada e cheia de maravilhosas e perigosas aventuras! Sem querermos ser “spoilers”, esta é a altura certa para começar a leitura de “O Cavaleiro da Dinamarca” e assim descobrir por que razão enfeitamos os pinheirinhos de Natal.

“Dois anos antes de sair de casa, o meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia.” Assim inicia o novo romance de Elena Ferrante, “A vida mentirosa dos adultos”. Assim começa a transformação de Giovanna, personagem principal, de criança feliz e inocente, em adolescente revoltada e angustiada. A frase ouvida, sem que os pais se apercebam, afeta-a bastante e a sua curiosidade leva-a a procurar e conhecer a tia Vittoria, desprezada pelos seus pais e , com a qual, o pai a acha parecida. A dura realidade que descobre termina com a inocência da sua infância e o mundo complexo e mentiroso “da vida dos adultos” , que agora conhece bem, despoleta uma série de mudanças difíceis de gerir. Tendo como cenário a cidade de Nápoles, o contraste entre os bairros pobres e os mais abastados, (o que nos faz lembrar, imediatamente, o ambiente da tetralogia “A amiga genial”) Ferrante descreve, magistralmente, o universo da adolescência feminina, através da narração dos conflitos familiares vividos por Giovanna.

O Sonho do Celta - Mario Vargas Llosa, por Fátima Fernandes (Professora de Inglês)

“O Sonho do Celta” foi uma das minhas primeiras experiências de leitura proporcionadas pela Biblioteca Escolar. A proposta foi feita pela D. Cila, assistente operacional afeta à biblioteca que, sabendo do entusiasmo da professora bibliotecária pelo livro, me recomendou a sua leitura. O livro, do escritor peruano Mário Vargas Llosa, aborda a vida de Roger Casement, consul britânico de ascendência irlandesa que, através da sua experiência diplomática no Congo belga e, posteriormente, na selva amazónica, no Perú, toma conhecimento dos episódios de tortura e terror imposto pelos regimes coloniais desses países junto das populações nativas. O testemunho da experiência da escravatura e horror num tempo de aparente modernidade (final do séc. XIX e início do séc. XX) altera a visão do mundo do nosso diplomata, que desperta para a (também) realidade colonial existente entre Inglaterra e Irlanda. E é então que se começa a formar o “sonho do celta”, o sonho nacionalista de uma Irlanda independente, sem as amarras coloniais. A participação de Roger Casement na tentativa de construção dessa Irlanda, alguma ingenuidade na escolha de parceiros nessa luta e a sua vida íntima exposta publicamente encaminham o enredo para o desastre e para a tragédia. O Comité Nobel justificou a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Mário Vargas Llosa em 2010, pela "sua cartografia de estruturas de poder e pelas incisivas imagens da resistência, revolta e derrota do indivíduo". Este livro é um bom exemplo disso mesmo.

Mataram a Cotovia - Harper Lee, por Carla Pontes Monteiro (Professora de Português)

Mataram a Cotovia, de Harper Lee Publicado em 1960, a minha proposta é um clássico da literatura norte-americana, galardoado com o prémio Pulitzer de Ficção em 1961 e adaptado ao cinema no ano seguinte. Metáfora da inocência, denúncia do ódio e preconceito social e racial, “Mataram a Cotovia” (do original “To kill a mockingbird”) rasga as fronteiras do espaço e do tempo, assumindo-se como um grito contra o racismo, que se mantém uma questão emergente no século XXI. Contadora de histórias despretensiosa, Harper Lee leva-nos para Maycomb, uma cidade imaginária do Alabama, durante a década de 30 nos EUA, através do olhar de Scout, a jovem e contestatária protagonista, criada pelo irmão e pelo pai viúvo, o advogado Atticus Finch.

Homem de convicções e apurado sentido de justiça, Atticus cumpre zelosa e exemplarmente o seu papel de pai numa família monoparental, transmitindo valores e encorajando os filhos à reflexão para não sucumbirem à ignorância e preconceito que reinam na comunidade de Maycomb. No centro da ação surge uma acusação de violação de uma jovem branca, alegadamente perpetrada por Tom Robinson, um dos habitantes negros da cidade. Resistindo à intimidação dos que desejariam “fazer justiça pelas próprias mãos” através do linchamento público, Atticus assume a defesa do negro, transformando-se no alvo preferencial do acusador, Bob Ewel. Expectavelmente, a ficção retrata a realidade, Tom acaba condenado e o seu advogado sofre as consequências de não abdicar dos seus valores. A escrita agarra o leitor desde as primeiras páginas e flui admiravelmente, transportando-o para o centro dos acontecimentos e para a perspetiva das personagens. É impossível não criarmos empatia com a visão inocente da protagonista, não partilharmos do seu enfado na presença da tia “chata”, não nos deixarmos tomar pela revolta dos injustiçados, não nos envergonharmos com o preconceito dos acusadores … O livro veio parar-me às mãos quase por acidente, no início de setembro, e li-o de um fôlego, porque uma vez dentro da história, é impossível parar. Opps…esqueci-me de mencionar Boo Radley… A tua infância também conheceu “o papão” ou o “homem do saco”? O desconhecido e a imaginação pregam-nos cada partida!

A narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket - Edgar Allan Poe, por Ana Rangel (Professora e Diretora da Escola)

"... Porém, na minha ansiedade de tudo ler duma vez só, apenas consegui ler as sete últimas palavras que apareceram assim: «sangue - tua vida depende de continuares fechado.» Pudesse eu ter verificado todo o conteúdo do bilhete - o sentido completo da advertência que meu amigo me tentara assim transmitir, e tal advertência, ainda que ela devesse revelar uma história do mais inefável desastre, não poderia, estou firmemente convencido disso, haver imbuído meu espírito com um dízimo do pungente e indefinível horror que me inspirou o fragmentário assim recebido." Excerto de "A narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket" Edgar Allan Poe Sempre adorei ler... Sempre adorei mistérios... Sempre adorei ler livros de mistério/terror... Muito mais do que qualquer filme, um bom livro de mistério/terror - ou de qualquer outro tema - deixa o leitor atento ao mínimo barulho, à menor sombra, porque tudo é fruto da imaginação ... e a imaginação leva-nos a qualquer situação/local que queiramos ir. A escrita de Edgar Allan Poe prende com os seus detalhes, que nos permitem imaginar a cena, posicionar as personagens, viver os sentimentos e, quando pensamos que já percebemos a história, ser apanhado pela reviravolta na história. Ler transporta-me... e completa os meus dias, sempre, nem que seja com uma página.

Antes do Baile Verde - Lygia Fagundes, por Fátima Lopes (Professora de Educação Física)

Apesar de não ter o hábito de ler regularmente, a leitura é um dos momentos que mais aprecio, pelo que fiz questão em me associar à comemoração do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares. A nossa bibliotecária, professora Clarinda Santos, recomendou-me o livro “Antes do Baile Verde”, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, que publicou imensas obras e ganhou diversos prémios de literatura. De referir ainda que se tornou a primeira mulher brasileira a ser indicada para o prémio Nobel de Literatura. O livro em referência contém uma coletânea de dezoito contos que retratam episódios do quotidiano sucedidos há décadas atrás mas cujos temas são sempre atuais, como o adultério, a insatisfação conjugal e a loucura. De salientar que a maioria das personagens é feminina, entendendo-se que a escritora pretendia assim retratar o papel da mulher na sociedade daquele tempo. Os contos apresentam um desfecho sem final explícito, levando o leitor a fazer uma introspeção. Os que mais me agradaram foram: “Antes do baile verde”, “O moço do saxofone” e “A chave”. Aconselho vivamente este livro, pois são textos curtos, o que torna a sua leitura leve e interessante, sendo um livro ideal para quem não dispõe de muito tempo para dedicar à leitura.

A Rapariga que roubava livros - Marcus Zusac, por Paula Coelho (Professora de Português)

Depois da singularidade do título (uma rapariga que roubava… livros??), o facto de percebermos (quando, indecisos ainda, lemos o primeiro parágrafo) que é a Morte quem tem uma história para nos contar. Quando a Morte tem uma história para nos contar, temos todo o interesse em ouvi-la, certo?... Certo. Assumindo o papel de narradora em A Rapariga Que Roubava Livros, vamos ao seu encontro em Munique, na Alemanha, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, onde ela - essa mesmo, a Morte -, não sem alguma pena, tem uma função muito ativa na recolha de almas.

É por esta altura que se cruza com Liesel, uma menina de nove anos entregue para adoção, que, aquando do funeral do seu pequeno irmão, roubou o seu primeiro livro: o primeiro de muitos pelos quais se apaixonará e que a ajudarão a superar as dificuldades da vida, dando um sentido à sua existência. Quando o roubou, ainda não sabia ler, e será com a ajuda de Hans, o seu novo pai, que passará a saber percorrer o caminho das letras, exorcizando fantasmas do passado. Ao longo dos anos, Liesel continuará a dedicar-se à prática de roubar livros (às vezes resgatando-os das fogueiras do Reich, que sabia bem que ler é o único antídoto conhecido para a ignorância e o fanatismo), tal é a ânsia de aprender e a impossibilidade que tem em obtê-los de outra forma. Com Max, um jovem judeu que vive escondido na cave de sua casa e que, tal como ela, se refugia na literatura para escapar à dura realidade, nascerá uma profunda e belíssima amizade. Num contexto de privação, medo e opressão, a leitura surge como única possibilidade de redenção, de esperança, de fuga e de encontro com a realidade. A Morte, com a qual não podemos deixar de simpatizar, é uma voz peculiar: irónica, emocionante e terna. Inicialmente classificado como juvenil, este livro conquistou leitores de todas as faixas etárias e deu origem ao filme com o mesmo título.

BIBLIOTECA DA ESCOLA SECUNDÁRIA SÃO PEDRO DA COVA

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O LIVRO DOS LEITORES DA BE-ESSPC

20 21

Flatland - Edwin A. Abbot, por Amália Pereira (Professora de Matemática).

Ora cá está uma obra literária para quem gosta de testar a sua imaginação em várias dimensões! Este livro é a descrição dos habitantes de uma terra em que existem apenas duas dimensões. Naturalmente esses seres também têm duas dimensões, mas… não são seres fixos… eles movem-se! As mulheres são linhas retas. Os homens são polígonos e quanto maior o seu número de lados, mais respeitados são. Os soldados e trabalhadores das classes baixas são triângulos isósceles, com os lados iguais a medirem cerca de 28 cm e o terceiro lado cerca de 2,5 cm. Pontiagudos, portanto.

Os triângulos equiláteros representam a classe média. Os profissionais liberais, ou Cavalheiros de posição, são quadrados ou figuras de cinco lados. A partir de seis lados em diante estamos na presença de seres da nobreza e quanto maior o número de lados maior será o seu estatuto nesta sociedade. Por fim, temos os círculos que representam a classe circular, ou Eclesiástica, e claro, esta é a classe mais elevada. É incrível a descrição feita destes habitantes de Flatland. Rapidamente somos transportados para esta dimensão e levados a vestir a pele de um dos seus habitantes, tornando tudo muito mais percetível. Por exemplo, a razão pela qual as casas não devem ser triangulares ou quadradas é que o risco de um transeunte distraído se ferir gravemente será enorme. Então, as casas são pentagonais e com duas entradas, uma mais estreita para as senhoras linhas e outra consideravelmente mais larga para o homem. Uma mulher irritada nesta terra??? Fujam para bem longe! E os filhos deles?! Bem, não sei exatamente como nascem, mas sei que nascem e são a esperança de qualquer família… se tiverem lados iguais! Vale a pena mergulhar nas Leis da Natureza consideradas por esta gente e saltitar com o nosso quadrado entre dimensões que dificilmente se provam que existam. O desconhecido é tramado! A vós, habitantes da Spaceland, desejo-vos uma boa viagem! E ainda há quem diga que a Matemática não serve para nada…

Vai aonde te leva o coração - Susanna Tamaro, por Susana Penha (Técnica de Educação)

"Vai aonde te leva o coração" é uma carta escrita pela avó/mãe à sua neta. É uma história que retrata a vivência de três gerações de mulheres e a forma como cada uma delas lidou com a vida, as escolhas pessoais, as aspirações, os receios, as ações, as consequências, o auto-conhecimento e a busca pela felicidade! É através de um olhar simplista que vemos a complexidade da vida e que nos comovemos com as suas escolhas. Li este livro aos 16 anos. Foi-me falado por amigas, aliás, todas nós lemos o livro na altura da nossa adolescência. E penso que foi dessa forma que ele ficou mundialmente conhecido e já tem mais de cinquenta edições, pelo “passa a palavra”! Gostei muito de o ler porque é um daqueles livros que fica no coração. Esta é uma das citações que mais adoro: "E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar".

DESENHA-ME UMA BIBLIOTECA Celebração do mês internacional das bibliotecas escolares

A Morte de Ivan Ilitch - Tolstói, por Tomás Pinheiro (aluno do 12º ano, Turma B)

A Morte de Ivan Ilitch – Tolstói Sr. Tolstói, ai grande Senhor! Escreveu um livro de oitenta e poucas páginas nas quais veio denunciar e criticar a superficialidade da alta sociedade e a hipocrisia da aristocracia do seu tempo. Nesta obra que narra logo no início os funerais de Ivan Ilitch, um homem dotado de uma extrema inteligência, a morte não é encarada como algo negativo. Ivan, pai de família, casado com Prascóvia e juiz na corte de justiça, é um homem repleto de sabedoria, no entanto, quando percebe que vai morrer devido a uma doença que abalou a Rússia no século XIX (mas que nunca lhe foi diagnosticada) mostra-se, à medida que a narrativa progride, cada vez mais transparente, o que permite ao leitor penetrar no seu inconsciente e embarcar numa história intensa. Ivan acredita que a sua família e a sua vida foram infetadas pela mentira, o que acentua a sua vontade de morrer, conquanto mantenha o seu instinto de sobrevivência. Numa casa onde tudo parece tornar-se uma mentira, Ivan Ilitch entende que o seu filho Vladimir jamais lhe mentiria e este passa a ser a única companhia desejada. Todos estes processos psicológicos levam o personagem a questionar-se sobre a vida que realmente queria ter. A partir daqui, a personagem principal começa um percurso cujo objetivo é a busca pelo sentido da vida e acaba por perceber que a sua vida nunca teve sentido algum. O culpado, segundo Tolstói, não era nem mais nem menos que a sociedade em que viveu Ivan. Em simultâneo, a narrativa é a continuidade da vida... ou da morte.

Siddartha - Hermann Hesse, por Mara Bento (Psicóloga da Escola)

Siddartha... a viagem, o caminho da procura e do encontro. Uma viagem demorada, um caminho lento e tedioso,... mas que acaba. Acaba quando Siddartha percebe o sentido da vida, quando quem lê o livro percebe o sentido da vida! Siddhartha é sobre ser paciente. Sobre esperar. Sobre nos relacionarmos com a natureza. Sobre observar, sobre sentir. Sobre equilíbrio. Sobre erros. Sobre aceitação. Sobre aprendizagem. Siddhartha é a esperança, a capacidade de ser resiliente e de encontrar respostas no meio/a partir da dor. Siddhartha é para aqueles que estão prontos para se (re)descobrir; para os que ainda estão alheados do processo de auto-descoberta, será uma leitura de esforço, desarticulada e enfadonha... mesmo assim, arrisquem! Numa sociedade VUCA ( VICA, em português: Volátil, Incerta, Complexa e Ambígua), em que a normalidade parece residir numa forma de ser/fazer/estar feroz, insaciável e competitiva... vale a pena parar para ler (ou reler) Siddartha. Fazer uma pausa. Partir à (re)descoberta do que é realmente importante. Siddartha é um livro, uma personagem, uma história, uma sociedade. Sou eu; é a minha viagem. Podes ser tu; pode ser a tua viagem.

Mar me Quer - Mia Couto, por Goreti Castro (Assistente Operacional)

O Conto dos Chineses - José Cardoso Pires, por Paulo Miguel (aluno do 7º ano)

O livro “Mar me quer” fala-nos de Zeca e Dona Luarmina, que habitam numa aldeia em Moçambique, sendo o mar a personagem principal bem presente na vida deles. Já com uma certa idade, Zeca, que foi pescador, está apaixonado pela dona Luarmina, mas esse amor não é correspondido. Com uma dezena de breves capítulos, esta obra do escritor moçambicano, Mia Couto, faz-nos reviver o passado de Zeca e a forte ligação com o seu grande mentor, o avô. Zeca tem um terrível segredo que lhe traz muita culpa, segredo esse que será desvendado no fim e que lhe trará paz. Para mim, este livro “fala-nos” da solidão dos personagens e da imensidão do mar.

"O Conto dos chineses" é a história de um homem que tinha duas filhas, esse homem era guarda de obra e passava o tempo debaixo de um telheiro. No telheiro tinha alguma comida para comer, queijo, pão e vinho…e por vezes fazia uma pequena fogueira. Um dia estava o homem a pensar nas festas da cidade que havia lá ao longe, pois era dia de S. João, quando viu chegar lá ao fundo uns homens que eram chineses. Pensava que tinham ficado perdidos. O homem ouvia-os falar e achou a sua língua muito esquisita, as suas filhas, que ali brincavam, até se riam… Eu recomendo este livro para crianças dos 7 a 12 anos, mas também para grandes. Livro engraçado sobre chineses com desenhos e é fácil de ler. Bom para imaginar ...

O Alienista - José Maria Machado de Assis, por Carla Guimarães (Assistente Operacional)

"O Alienista", uma obra que ao longo do tempo se tornou um clássico da língua portuguesa, foi escrito pelo brasileiro José Maria Machado de Assis, nascido em 1839 no Rio de Janeiro. A história gira em torno de Simão Bacamarte, um respeitado médico especializado em doenças mentais, que viajou pela Europa e pelo Brasil e, aquando do seu regresso à cidade brasileira de Itaguaí, decidiu criar um manicómio que batizou com o nome de Casa Verde. Empenhado nos seus estudos voltados para a psiquiatria, Simão Bacamarte acaba por internar na Casa Verde uma grande parte da população de Itaguaí! O comportamento, as atitudes, os interesses, as relações sociais e o egoísmo humano são analisados e passados a pente fino pelo Alienista, cabendo-lhe a ele decidir da loucura ou sanidade de um vasto rol de personagens, tudo em prol da ciência. Machado de Assis não poupa na crítica social da época e deixa-nos à mercê de uma visão realista sobre quão ténue é a diferença entre a loucura e a sanidade. Achei este livro deveras interessante, principalmente pelo “volte-face” que o rumo da história toma no final. O conto explora as variações do comportamento humano, que oscila diante de determinados padrões da sociedade e de acordo com as ambições pessoais de cada um. Machado de Assis usa a ironia e o humor para enumerar os problemas comuns de todas as sociedades, tornando esta obra sempre atual.

Moby Dick – Herman Melville, por Aida Gonçalves (Chefe dos Serviços Administrativos).

Há anos que pensava ler este livro. Faz parte dos grandes clássicos da literatura mundial e da minha biblioteca pessoal. Cada vez que terminava um livro e “precisava” escolher o seguinte, Moby Dick era opção… mas nunca a escolha final. Finalmente chegou a sua vez. Não vou dizer que é um livro fácil de ler, porque não é. Acompanhar o Capitão Ahab e a tripulação do Pequod na perseguição vertiginosa daquela enorme baleia branca, que lhe arrancara uma perna e de quem se quer vingar a todo o custo, e alternar essa perseguição com conhecimentos sobre baleias, métodos de pesca e detalhes sobre barcos e armazenamento de produtos não é tarefa simples. Mas desta vez não desistirei. Moby Dick é uma história de luta, de sobrevivência e dela poderemos tirar muitos ensinamentos. Estou ansiosa para chegar ao fim. Quero saber o desfecho desta história que não me deixa adormecer sem que leia mais um capítulo. Neste momento, posso dizer que estou viciada.

Cem Anos de Solidão – Gabriel Garcia Marquez, por Carlos Piedade (Professor de Física e Química).

Aceitei o desafio, proposto pela professora Clarinda Santos, de escrever sobre um livro, e imediatamente recordei uma das histórias que mais me fascinou e que já reli por três vezes: “Cem Anos de Solidão”, de 1967, do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, prémio Nobel da Literatura de 1982. Com a descrição da fundação da cidade fictícia de Macondo, o autor atravessa sete gerações de uma família fundada por José Arcadio Buendia e Ursula Iguarán. As personagens, que invariavelmente têm nomes repetidos como José Arcadios, Arcadios, Aurelianos, Úrsulas e Amarantas, formam uma intrincada árvore genealógica, complexa e difícil de compreender.

Várias vezes dei por mim, enquanto lia, a anotar quem era casado com quem ou com quem tinha relações amorosas e de quem eram descendentes os inúmeros filhos. No entanto, todas elas têm o seu quinhão de loucura, de irreverência, de magia e de fantasia. Todas as personagens, que já nascem com o destino traçado e associado ao seu nome, atravessaram episódios macabros, vivem experiências mágicas a atravessam um tempo imaginário, que parece ser continuamente cíclico. Todas elas são marcadas por um sentimento comum, a solidão. A morte, sempre presente em diversos acontecimentos, é vista como uma banalidade à qual não se escapa, é regeneradora e impulsiona o continuar da vida dos que nela permanecem. Garcia Marquez (Gabo) descreve com mestria a evolução dos acontecimentos históricos do século XX, como a chegada do telefone, a invasão dos americanos na América Latina e o fatalismo dos povos sul-americanos. O universo da América Latina, com as suas cores, cheiros, costumes e com o seu misticismo e a revolta dos povos face ao totalitarismo, foram, em "Cem Anos de Solidão", uma descoberta para mim. Formou-me como leitor e levou-me a ler quase toda a obra de Garcia Marquez e a procurar incessantemente outros autores latino-americanos como o peruano Vargas Llosa, os cubanos Reinaldo Arenas, Lezama Lima, Leonardo Padura e Cabrera Infante, o uruguaio Mario Benedetti, o argentino Eloy Martinez e o mexicano Carlos Fuentes, entre outros que ainda não tive oportunidade de ler.

Sinal de Vida - José Rodrigues dos Santos, por Carla Lixa (Professora de Biologia)

Um “sinal de vida” é captado por um Observatório Astronómico da NASA, através de uma peculiar frequência de emissão de 1.42 megahertz. Tomás Noronha, o criptógrafo português de renome, prepara o seu casamento no Vaticano quando é nomeado para integrar a missão espacial de reconhecimento de vida, num objeto estranho cuja trajetória se dirige para o nosso planeta. Uma corrida contra o tempo…. Regressar vivo para a sua noiva; impedir o objetivo de destruição do “OVNI” pela União Soviética; a tentação pela belíssima astrobióloga húngara; a busca pelo conhecimento sobre a origem da Vida; o papel da nossa existência e do enquadramento da vida, no Universo. Uma empolgante e intensa aventura, que me fez ler ininterruptamente esta narrativa e que, sobretudo, me fez questionar sobre como dar resposta às perguntas: - Será a vida um ACASO ou um PROPÓSITO? - Estaremos SÓS ou estaremos entre outros habitantes no Universo?

Margarita e o Mestre - Mikhail Bulgákov, por Teresa Castro Gandra (Professora de Francês/Português)

Fala-se no Diabo e o Diabo aparece! Foi exatamente isso que aconteceu a dois escritores , em Moscovo, ao pôr-do-sol de um dia de primavera, após beberem um sumo de alperce quente que lhes provoca um ataque de soluços. A um deles, Berlioz, aos soluços seguem-se outros problemas, como taquicardia, medo, ansiedade, situação nunca antes vivida que o faz desabafar “ Talvez seja altura de mandar tudo para o Diabo e partir para Kisslovodsk”( estância balnear). Não teve tempo, porque ficou sem cabeça! A partir deste acidente, o Diabo e os seus comparsas, entre os quais o gato Behemot, vão infernizar a vida aos corruptos e aldrabões e ajudar outros, como é o caso de Margarita e o Mestre, autor de “Pôncio Pilatos”. Ao incluir esta obra do Mestre no seu próprio romance, o autor dá-nos a conhecer mais factos sobre Jesus, Judas, Mateus e Pôncio Pilatos. A integração desta obra nos acontecimentos provocados pelo Diabo é de uma mestria excecional. Mikhail Bulgákov apresenta-nos a sociedade moscovita dos anos 30 do século passado e, certamente, põe a nu muitas das suas vicissitudes, pois “Margarita e o Mestre” só foi publicado 20 anos após a sua morte, tendo sido queimada a parte respeitante à obra do Mestre… Só lendo esta obra se consegue perceber a genialidade deste autor: imaginação, imprevisibilidade, desconcerto, espetacularidade e tanto mais, da primeira à última linha...

O Homem de Ferro - Ted Hughes, por Teresa Ferraz Sousa (Assistente Operacional)

Jane Eyre - Charlotte Brontë, por Paula Rocha (Assistente Operacional)

Este livro que tenho na mão conta a história de um enorme homem de ferro, que um dia surgiu no alto de um rochedo à beira-mar, com o sonho de ver o mar. Sabe de onde veio? Não sabe. E como foi feito? Também não sabe. Veio de longe? Então é que não sabe mesmo. Os agricultores da aldeia tiveram medo daquele ser de lata enorme e barulhento, com duas luzes brilhantes nos olhos e que se alimentava de metal (tratores, arrame farpado….). Um dia, juntaram-se todos para acabar com a destruição causada pelo Homem de Ferro e arquitetaram uma armadilha para o apanhar, mas quando um monstro vindo do espaço ameaçou devastar o planeta, Hogarth, o jovem filho de um agricultor, pediu ajuda ao Homem de Ferro para salvar o mundo e… Tens de ler o livro para saberes as aventuras dos dois amigos. Eu adorei. É um livro de poucas páginas e de leitura fácil e divertido. Está na nossa biblioteca à tua espera.

Depois de ler “Jane Eyre”, da escritora inglesa Charlotte Brontë, compreendo o fascínio com que a Cila Magalhães me aconselhou esta obra publicada em 1847. O enredo gira à volta de Jane, uma jovem órfã de classe social pobre mas muito à frente do seu tempo. Desprovida de qualquer manifestação de afeto, torna-se precetora numa casa senhorial e apaixona-se pelo senhor/patrão que lhe corresponde nesse sentido. No entanto, há um segredo que assombra a felicidade de ambos. Jane, apesar de ser de baixa condição social, não desiste dos seus sonhos, do amor e da felicidade, mantendo-se fiel a si e às suas convicções. Este livro fala-nos de resiliência e de coragem, ensina-nos a não desistir dos nossos sonhos e a procurar a felicidade. Acima de tudo prova-nos que não devemos deixar de ser nós próprios. “A vida, porém, ainda estava na minha posse, juntamente com todas as suas exigências, as suas angústias e as suas responsabilidades. Fiz-me ao caminho”.

O Velho Expresso da Patagónia - Paul Theroux, por Isaura Lima (Professora de Português).

Numa manhã de mau tempo, debaixo de um impressionante nevão, Paul Theroux deixou a sua casa em Medford, Massachusetts.

Cruzei-me com ele na estação e entramos juntos no comboio suburbano para Boston. Observou-me. Não pareceu, no entanto, estranhar que, de seguida, entrasse também no comboio para Chicago e continuasse com ele a viagem, sucessivamente para sul. Embora, por momentos, parecesse não me ver, foi partilhando comigo as suas leituras, as suas observações, os seus pontos de vista, as suas conversas quase íntimas com quem entrava, com quem se sentava ao nosso lado, com quem lhe chamava a atenção ou interrompia os seus longos silêncios. Eu sei que o destino final é o percurso no Velho Expresso da Patagónia e um mítico e remoto lugar no sul da América, mas, silenciosamente, deixo-me estar e saboreio passo a passo, pelos seus olhos, as montanhas ressequidas, as terras desoladas, os arbustos espinhosos. Vamos descendo o México por canaviais quase impenetráveis, por cidades, por lugares e, em muitos momentos, presos ao Dicionário do Diabo, de Ambrose Bierce e, agora, na leitura de Mark Twain, em Pudd’nhead Wilson a que se seguirá a dramática Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket. Anseio pelo que se segue: Guatemala, San Salvador, a Colômbia, o Peru, as palavras de Stevenson e o encontro com o mítico Jorge Luís Borges…. Nesta viagem, em tempos de pandemia, sinto-me livre como nunca e longe de todo o confinamento. Sei que, apesar da paisagem desolada, vou descobrir, como o nosso autor, que existo nela e que “O fim do mundo é um lugar”.

As Estações da Vida - Agustina Bessa Luís, por Marco Alves (aluno do12º ano, Turma A)

“As Estações da Vida”, de Agustina Bessa Luís. Um livro que nos leva a viajar de comboio, mesmo ao lado da autora. Nesta obra, Agustina dá destaque às belas estações ferroviárias de Portugal de que tanto aprecia os azulejos: desde a grandiosa estação de São Bento, no Porto, onde começa a viagem, até ao apeadeiro da Abrunhosa, em Viseu, e muitas mais. “Os azulejos contam toda uma poesia que não é épica, é o viver de todos os dias, é um sermão sem sotaina, é um contrato social sem filosofia “ - era assim que Agustina via essas obras de arte. Podemos imaginar os azulejos através dos pormenores que nos são fornecidos e, para cada estação, é-nos transmitida a história que está pintada nos painéis. Assim, ficamos a conhecer aquela estação, aquela cidade e os costumes daquela gente sem termos lá ido. Ao longo das suas viagens pelos caminhos de ferro do norte, Agustina divaga e conversa connosco sobre o que vê e o que isso lhe faz lembrar. Ficamos a conhecer algumas figuras, como por exemplo, as duas irmãs – uma bela e outra menos bela – ou o espanhol contrabandista, entre outras que permaneceram na memória da escritora. O livro é pequeno e de leitura bastante agradável. É aquele livro que queremos ler depois de um dia de escola ou de trabalho. Uma excelente companhia!

Eclipse - Setephenie Meyer, por Beatriz Pinheiro (aluna do TADG3)

A Salvação de Wang - Fô - Marguerite Yourcenar, por Adélia Santos (Professora de TIC)

O livro "Eclipse" é o terceiro volume de uma saga bem conhecida, a saga “twilight". Este livro leva-nos a fazer uma longa viagem ao mundo do romance e dos seres sobrenaturais. É melhor apertarem os cintos porque vai ser uma viagem um pouco turbulenta. O perigo ronda novamente Bella com uma série de crimes misteriosos, aterrorizando Seattle e uma vampira maliciosa em busca de vingança. A jovem Bella precisa de escolher entre o amor por Edward e a amizade com Jacob, sabendo que a sua decisão pode desencadear uma batalha entre o vampiro e o lobisomem. Quem escolherá Bella? É que há amores inconciliáveis. Eu escolhia Edward, e tu quem escolhias?

Numa ida à biblioteca da escola ESSPC vi um livro em cima da mesa e o seu título chamou-me a atenção, “A salvação de Wang-Fô e outros contos orientais”. Folheei-o e fui ficando curiosa por este nome estranho. Quem será Wang-Fô? Por que razão foi salvo? Salvo de quê? Por isso, decidi requisitá-lo para ler. O livrinho é um conjunto de contos da escritora francesa Marguerite Yourcenar e a história da salvação de Wang-Fô corresponde ao primeiro conto. De facto, o meu instinto não me enganou porque não consegui parar de ler esta prodigiosa narrativa que fala de um pintor desapegado dos bens materiais e que adorava pintar a natureza, tendo alcançado uma fama que o precedia nos lugares por onde passava. Apesar disso, Wang-Fô, é vítima da crueldade do Imperador do reino de Han e é salvo pela lealdade e amor do seu discípulo Ling. Gostei muito da leitura do conto e adorei a mensagem que me transmitiu.

Retrato a Sépia- Isabel Allende, por Ana Santos (Professora de Biologia)

Antes de falar do magnífico romance “Retrato a Sépia” de Isabel Allende, gostaria de partilhar o meu gosto pela leitura. Desde muito nova que ler é um dos meus maiores prazeres. Requisitava livros na Biblioteca da Junta de Freguesia onde residia, recebia de presente de amigos e familiares e permutava com estes. Nas bibliotecas escolares não existiam obras como romances, livros policiais ou de ficção científica, nem havia contratos de leitura na disciplina de Português! A geração mais jovem tem uma facilidade de meios que outrora não existiam! No que concerne à autora do livro, Isabel Allende, é uma das minhas escritoras preferidas! Ela tem o dom de nos fazer mergulhar na leitura e só desligar quando a obra acabar! Este livro que li há muitos anos e que agora reli é um romance histórico que decorre principalmente no Chile, mas também nos Estados Unidos. Retrata a vida de uma família na voz de um dos seus elementos. Quem será este protagonista? Que história de família vai contar? Na sua opinião só o Chile pode ser a sua casa “… só neste Chile de cataclismos geológicos e mesquinhices humanas…ásperos vulcões e cumes nevados, de lagos imemoriais semeados de esmeraldas, de rios espumosos e bosques fragrantes, …” E qual será a razão para o título do livro? Pois bem, esta história fantástica encontra-se na biblioteca da escola à espera de leitores! Ler mais é saber mais! Ler muito ajuda a falar melhor, a interpretar melhor e a ter mais sucesso escolar! Esta capacidade será proveitosa, não só para a disciplina de Português, mas para todas as disciplinas

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