DE MANUEL ANTÓNIO PINA - Para ilustrar pelas crianças

O PAÍS DE PESSOAS DE PERNAS PARA O AR 

Já se tinha juntado muita gente à volta do passarinho e ninguém queria acreditar porque para aquelas pessoas, a coisa mais natural deste mundo quer dizer, daquele mundo, era andar de pernas para o ar e nunca tinham visto ninguém andar de outra maneira. E o Fausto teve que responder a muitas perguntas: Como é que vocês conseguem acender a luz de noite? perguntou aquela pessoa George muito admirada. Porque, naquele país os interruptores da luz, estavam quase junto ao chão, para ficarem perto das mãos das pessoas.

Aquela pessoa chamada George ensinou a Sara a fazer o pino e a Sara ensinou-o a andar com a cabeça para cima e ele achava muita graça.

O Fausto disse: George vem ver o meu país de marinheiros e eu mostro -te como são as pessoas no meu país. A pessoa Chamada George aceitou logo toda contente e desejosa de conhecer o mundo. Fez as malas num instante e foi com o Fausto. Passaram os dois por muitas terras estranhas numa terra onde passaram as pessoas em vez de falar, assobiavam e ficaram os dois muito admirados com aquilo e quando chegaram a casa da Sara o passarinho Fausto e aquela pessoa chamada George a Sara ficou de boca aberta.

É o meu amigo do país das pernas para o ar disse o passarinho. A Sara nem queria acreditar. Mas o Fausto lá contou as suas aventuras todas muito bem contadas. E, como eram já horas de jantar, foram os três comer. E ficaram muito amigos e brincaram muito uns com os outros.

Chegou a uma terra em que as pessoas andavam todas de pernas para o ar e de cabeça para baixo. 

Um dia fez as malas e foi conhecer o mundo!

O passarinho Fausto ficou admirado com aquilo tudo. Por isso perguntou a uma pessoa: - Porque é que vocês andam todos de pernas para o ar? -Porque assim é a única maneira de andar - disse a pessoa Mais admirado ficou o Fausto. Aquela pessoa disse ao Fausto que se chamava George e perguntou-lhe como é que ele se chamava. - Chamo-me Fausto - disse o Fausto. E a pessoa chamada George disse: - E como é que andam na tua terra?

As pessoas daqueles País calçavam os sapatos nas mãos e as luvas nos pés!

Com a cabeça para cima e com os pés no chão- disse o Fausto. (ia a dizer como toda a gente mas arrependeu-se logo). Aquela pessoa começou a rir-se às gargalhadas. Não queria acreditar que houvesse algum sítio no mundo onde a gente andasse de cabeça para cima e com os pés para baixo. Então o Fausto contou-lhe que, na terra dele, os sinaleiros estão de pé no meio da rua e mandam andar os carros com as mãos e os automobilistas guiam com as mãos e que as pessoas calçam os sapatos nos pés e as luvas nas mãos e assim por diante.

Uma vez a Sara tinha um passarinho. O passarinho chamava-se Fausto. Era branco e amarelo e chamava-se Fausto. Ora de que se havia de lembrar o passarinho chamado Fausto?

O País das pessoas de pernas para o ar. Uma história de Manuel António Pina

No meio de uma rua, o sinaleiro daquele país mandava os carros avançar com os pés e os automobilistas daquele país, em vez de guiarem com as mãos também guiavam com os pés. 