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A girafa que comia estrelas

by Guilherme Dias

Pages 2 and 3 of 26

A girafa que comia estrelas
José Eduardo Agualosa
Ilustrador Henrique Cayatte
D. Quixote
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Para a Vera Regina, que um dia me ensinará a dançar


Às vezes a mãe ralhava com ela:
«Olímpia, Olímpia, lá estás tu outra vez com a cabeça nas nuvens!»

E era verdade, a pura verdade.
Aos cinco anos Olímpia já ultrapassava em altura todas as girafas da savana.
Era tão alta que quando levantava o pescoço e se punha na pontinha dos pés a cabeça dela desaparecia entre as nuvens.
A mãe de Olímpia, Dona Augusta, não gostava daquilo:
«As nuvens são húmidas e frias, Olimpiazinha, olha que e te constipas.»

O pior que pode acontecer a uma girafa é ficar constipada.
Primeiro porque quando espirram assustam todos os outros bichos, e sacodem as árvores e as coisas, e algumas chegam mesmo a perder a cabeça (a cabeça pode saltar com a força do espirro); depois porque é difícil conseguir um cachecol capaz de cobrir pescoços tão compridos.
Olímpia, porém, gostava de andar com a cabeça nas nuvens – queria ver os anjos.
A Avó Rosália, mãe de Dona Augusta, dissera-lhe que os anjos dormem nas nuvens. Também lhe dissera que  quando as pessoas morrem se transformam em anjos.
Dissera-lhe isto pouco antes de morrer.
Por isso Olímpia passava o dia inteiro com a cabeça enfiada nas nuvens.
Tinha saudades da avó.
À noite comia estrelas.
Enquanto as outras girafas dormiam, Olímpia subia ao  morro mais alto da savana, levantava o pescoço e comia estrelas.
As estrelas ardiam um pouco na garganta, mas eram doces e macias, e sabiam a pêssego.
Ao contrário do que seria de supor, a noite não ficava mais vazia por causa disso.
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