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1 Recortes entre Filosofia e Arte Contemporânea

by Aline Reis

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BLOGDEARTE.ART
PENSAMENTO COMO COLAGEM
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Recortes entre Filosofia e Arte Contemporânea
Uma longa tradição permite que possamos pensar as palavras como imagens. É como se pudéssemos fazer uma grande colagem de tudo aquilo que nos interessa.

Proponho criar um jogo de palavras para pensar a arte contemporânea, são elas:

dissociação, deslocamento, anacronismo, restos, rastros, vestígios, processos, experimentações, confisco, sentido, temporalidades, acontecimento, diferenças.

Apesar de uma simples escolha proporcionar uma dica de onde pretendo montar minhas questões, não posso negar que a simples menção de uma unidade já nos joga para fora do jogo!

É porque a arte contemporânea está situada num terreno ímpar, nela ressoa as vanguardas históricas do passado e outros longos percursos que permitiram pensar a experiência estética deslocando a ideia de arte do fazer artístico, em direção à práxis política, ou em outros caminhos ( a arte como ideia, inserida na vida…).

Veja que não é perseguindo os desdobramentos históricos que conseguiremos enxergá-la melhor, então persigamos as palavras de Duchamp quando questiona que tipo de experiência temos, se a arte não está nem atrelada ao conhecimento e nem à beleza, estamos muito mais próximos de um exercício contínuo de desorientação.

Significa dizer que um dos gozos está em enveredar pelos questionamentos que ela nos propõe. É nesse contexto de perda de um sentido total que a teoria entra como uma forma de dar sustento ao empreendimento. Não que a arte em si mesma precise, mas vislumbrá-la em sua precariedade teórica faz com que estejamos mais colados à desorientada experiência de nosso tempo.

Aline Reis | Rio de Janeiro, fevereiro 2021
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CADA PENSAMENTO TEM A SUA PAISAGEM
Recortes entre Filosofia e Arte Contemporânea
​O que significa dizer que “cada pensamento tem a sua paisagem”? Se adotarmos como caminho a ida da filosofia à arte contemporânea, podemos dizer que determinadas formas de pensar produziram um impacto considerável na tradição ocidental e ensejaram variadas paisagens: pintada, esculpida, colada, ausente, não só como uma janela para a alma, dentre outras.

​Se começarmos pelo pensamento de Nietzsche veremos que o niilismo de “hóspede indesejável” passou a perpassar a experiência contemporânea da arte, o que aparece no mofo das frutas em meio a natureza morta, no descascado das paredes da galeria como suporte ao trabalho de arte e uma série de obras que mostram a imaterialidade das coisas do mundo, os vestígios, as precariedades, os restos.

Entendo que a medida histórica no qual a arte contemporânea emerge diz muito mais sobre os seus modos de ser do que o fato de ser meramente um desdobramento da arte moderna. A história da arte traz também escolhas teóricas, adota discursos e legitima obras e artistas, portanto identificar a paisagem como representação da natureza na pintura e relacioná-la a adoção moderna de perspectiva é um desdobramento possível e remonta à tradição da filosofia cartesiana.

Vejam que pensar sobre a relação entre pensamento e paisagem pode partir de várias outras perspectivas, se quisermos partir do mundo já dado, destituindo os objetos de sua instrumentalidade, utilizando-o como “um plano e um acaso” como disse Richard Long, podemos colocar em jogo a experiência da arte nos limites factuais, históricos e finitos.

E como se tudo não fosse apenas ontologia, podemos vislumbrar uma nova paisagem surgindo na arte contemporânea atrelada à genealogia (o fio condutor também Nietzsche) que trata de pensar os fenômenos históricos na sua relação entre sentido e poder, também de forma material, de subjetivação dos corpos numa perspectiva chamada decolonial.

Aline Reis | Rio de Janeiro, março 2021


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