1.º Ciclo

Olho por outra janela e vejo todas as crianças da casa, espalhadas pelo chão da sala e de marcadores em punho, a desenhar, enquanto os pais estão atarefados na cozinha. O som da Bela e o Monstro, suavemente, sai das colunas da televisão e mistura-se com o crepitar da lenha da lareira, aconchegando todos.

Stars pattern

O tempo passa, a brisa continua a agitar os pinheiros e os flocos de neve, suavemente, continuam a depositar-se no solo apagando, definitivamente, os últimos rastos do trenó. Em todas as janelas, em todas as casas, o cenário é igual: a mesa cheia de risos, de alegria e de companheirismo. As crianças correm à volta da mesa espalhando jovialidade e lançando miradas furtivas aos embrulhos por baixo da árvore. No sofá, o avô já dorme a sua sesta.&nbsp;

Não é muito, mas a alegria que lhe leio nos olhos prova-me que ainda vale a pena fazer isto ano, após ano; década, após década; século após século…

Pouso-o no chão, desejo-lhe bons sonhos e, com um OH, OH, OH, desejo-lhe (e a vós também) um FELIZ NATAL!

Sento-me na cadeira, aconchega-se ao meu colo e diz-me que este é o melhor dia do ano. Estico-me e retiro do meu saco um pequeno camião de madeira...

Uma criança, mais reguila, acabou de passar sorrateiramente por baixo da mesa e, sem ninguém ver, roubou, com um sorriso, a mais apetitosa rabanada da pirâmide. A mãe, apesar de ter visto, nada diz e sorri para si.&nbsp;

Finalmente, com o passar da noite, os últimos convivas despedem-se e, bem agasalhados com gorros, luvas e casacos quentinhos, rumam a casa… A viagem não é curta, mas o calor do convívio familiar vai mantê-los quentes até casa, até ao próximo ano…

Enquanto aguardo que este mundo se acalme e adormeça, vejo, pelas portadas abertas, a preparação dos últimos pratos de Natal: o bacalhau a entrar nas panelas, o peru a entrar no forno e as travessas, já na mesa, com bolo rei e fritos natalícios a aguardar a chegada de todos os convivas.

À distância ouço um suave bater de porta, seguido do som das dobradiças, a precisar de um pouco de óleo, da porta que abre. Ouço a alegria e o calor nas vozes que cumprimentam os últimos convivas a chegar. Sinto o calor dos abraços que, sem dúvida, estarão a dar…

Tudo está calmo. A brisa, leve mas gelada, agita os pinheiros, empurrando as agulhas, como pequenas borboletas, para o chão branco. Ao longe, veem-se pequenos pufos de fumo branco a sair de chaminés de casas afastadas, pintalgando os vales e as montanhas. A neve cai em pequenos e suaves flocos, algodão que se junta em mantos pacíficos e serenos, tapando toda a vegetação. Um último rasto de trenó, decerto atrasado para este dia, ainda se vê na neve fofa.

Peças de jogos, bolas e livros já estão espalhados pelo chão…

As luzes apagam-se e as minhas renas estão a ficar ansiosas. Chegou a nossa vez… Apenas uma casa, pequenina e pobre, à distância mantém uma luz acesa… Aproximo-me e estaciono o trenó, suavemente, no seu telhado. A lareira já está apagada há muito, posso descer e repetir a tradição iniciada há uns anos… Apenas nesta casa, na mais pequena e pobre, permito que isto aconteça… Desci e, como sempre, lá me espera o meu pequeno amigo. Tem um copo de leite morno na mão esquerda e na mão direita um prato com um singelo biscoito… É tudo o que pode dispensar, mas fá-lo com tal amor que eu não o posso recusar…

Os brindes sucedem-se, os primeiros papéis de embrulho já estão espalhados pelo chão e todos, sem exceção (até o avô que, entretanto, acordou) observam e participam nas brincadeiras dos mais novos: carros, carrinhos, bonecas e robôs…

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