Um livro de poesia para toda a família...

Isso p'ra ti é que é um pesadelo?!

Espaço aberto, folha em branco, silêncio à espera, vazio, ar de menos, poema que tarda, ideia nenhuma, lápis sem cor, canção calada, sinfonia sem som, gaveta com nada, verbo saudade, varinha sem dom.

Não tenho asas nem quero ter. Medo de crescer mais alto que eu. Montes pequenos, montanhas não. Gosto de raízes, de sapatos, de chão. Não quero céu nem avião olho para baixo, falta-me o ar. Não tenho asas nem quero ter olho para dentro, sei como voar.

Fujo do rio, da chuva, das lágrimas, da sede, do mar. Não quero barcos, canoas, navios fujo de tudo o que me pode afogar. Fujo a correr... não sei nadar.

Cada medo meu é meu apenas nem pior nem melhor impressão digital pegada curta assim assim comprida infinito novelo. Por favor, não me perguntem nunca mais: isso p'ra ti é que é um pesadelo?!

E se a resposta estiver errada? E se eu for muito pequena? E se eu for muito grande? E se a minha cor não for a certa? E se não chegar à meta? E se quem sou não chegar? E se estiver alguém a olhar? E se o que os outros pensam não me interessar?

Como surgiu a ideia? Numa aula de matemática (5.º ano). Amigos, não é que ontem tive um pesadelo convosco! Estava a tentar fazer a tarefa de matemática que está programada para a semana que vem, a tal em que serão filmados a trabalhar, e tudo correu mal. Não havia mesas, vocês estavam sentados no chão, brincavam e nem me ouviam. Eu aflita a tentar perceber como formar os grupos e colocar-vos a trabalhar. Vocês a rir sem me prestar atenção. Logo vocês que se portam sempre tão bem! O João, na sua voz ciciada, com ar de absoluto espanto, perguntou: Isso p'ra ti é que é um pesadelo!? Eu respondi com outra pergunta: E o que é para ti um pesadelo? Ele respondeu: Um dia sonhei que tinha um tubarão na minha piscina...

Tenho medo dos medos que tenho. Cuido deles como posso limpo alguns aqui, ali, acolá, fecho outros numa gaiola escura despeço-me deles sem pena. Para os apagar sopa quentinha, carinho de mãe, palavras-abraço nos braços de alguém.

Quando a luz me vira as costas e nem a lua quer saber de mim, peço ao escuro, vai-te embora, leva contigo os monstros, leva contigo o papão, as aranhas, as bruxas, os dragões, as serpentes. À noite só gosto da fada dos dentes.

ISSO P'RA TI É QUE É UM PESADELO?!

E se, de repente, gaiola prisão, falta de ar, sem chave na mão? E se, de repente, nenhuma porta, nenhuma janela, nenhum oxigénio para respirar, nenhuma saída para fugir, nenhuma escada para subir, nenhuma palavra para escapar?

Mapa, bússola, rua sem cruzamento, passos alinhados, estrada certa, floresta com carreiro labirinto com solução. Quero ir sem desvios, sem enganos, sem surpresas no caminho. Não comam as migalhas que deixo no chão! Certeza do regresso ao ninho.

Tenho medo... que me mordam, me piquem, me batam medo de tubarões, de crocodilos de abelhas, de injeções de lobos, de tigres leões à espreita de mim garras, bicos e dentes sem fim.

Name

Safari may block some audio or video from playing automatically and ‘read to me’ will skip these. You can configure this in Safari’s preferences.