Conto e Reconto "Histórias da Minha Terra"

Era uma vez uma menina que vivia em Leça da Palmeira, chamada Brízida e que se apresentava sempre bem vestida, igual a uma dama.
Numa manhã muito fria, ouviu alguém bater no vidro de uma das janelas da velha casa da calçada, que ficava a caminho da igreja de S. Miguel. Era o Sr. Abade que lhe perguntou onde ia. Ela respondeu-lhe que ia à igreja, então, ele ofereceu-lhe uma caixinha que tinha o sol guardado. Brízida foi alertada para que apenas abrisse a caixa, especificamente no dia da procissão do Senhor dos Passos, se houvesse chuva. Ela jurou que não ia abrir a caixa, guardou-a no seu quarto e manteve-se leal à sua promessa.
No dia da procissão, o tempo parecia mais oprimido e escuro a cada minuto que passava. Leça da Palmeira precisava de sol. Brízida começou a correr para o jardim, abriu a caixa e aconteceu um milagre: o sol e os seus raios foram libertados, resplandeceram sobre o jardim, e logo as rosas desabrocharam. E assim, pegando e espalhando flores pelas ruas e vielas, portas e janelas, Brízida impediu o adiamento da procissão.
O povo de Leça estava muito feliz e agradecido por o sol ter nascido. Por fim, o sacristão tocou a sineta e pode realizar-se a procissão, que seguiu pelo rasto de flores do jardim da menina. Com a luz do sol a refletir sobre os sorrisos dos Leceiros que presenciaram o milagre do Senhor do Passos, ouviu-se dizer: “As Leceiras têm o sol na caixa!”. Brízida, talvez como recompensa da sua boa ação, viveu cem anos ou mais.