A Menina dos Cravos
Mariana Fernandes
6.ºM
6.ºM
Chamo-me Joana, vivo em Lisboa, tenho doze anos, e conhecem-me na escola por ter o número mais elevado de faltas alguma vez visto na minha escola. Eu tenho dois irmãos e uma irmã. O mais velho, o Luís, nunca o vi, porque quando nasci já ele estava na guerra. O meu outro irmão é o Marco. É um estudante universitário e vive ainda em casa dos meus pais, embora passe o tempo todo no bar com os amigos. A minha única irmã tem dezasseis anos e trabalha na loja dos meus pais. Todos ajudamos no café dos meus pais, menos (que saiba) o Luís.
Lembro-me do dia vinte e cinco de abril como se fosse ontem. Para mim, começou na noite do dia vinte e quatro. Já eram horas de me ir deitar, mas estava ainda a jantar porque o pai chegou antes da mãe e queimou o jantar… e a mãe demorou uma eternidade a acabar de cozinhar.
- Vai chamar a Anabela para levantar a mesa – disse o meu pai, já cansado de ter andado de trás para a frente no café, embora seja eu que aponte os pedidos e os traga aos clientes.
Fui logo ao meu quarto, porque sabia que a essa hora ela estava a fazer Deus sabe o quê no nosso quarto. Bati à porta e esperei cinco segundos até ouvir as molas gastas da cama a fazer o barulho que tanto odeio.
- A mãe chamou-te, burra. Não precisas de esconder nada – disse sem abrir a porta e com os braços cruzados. Fugi logo dali e fui ajudar a minha mãe com a loiça.
- Vai chamar a Anabela para levantar a mesa – disse o meu pai, já cansado de ter andado de trás para a frente no café, embora seja eu que aponte os pedidos e os traga aos clientes.
Fui logo ao meu quarto, porque sabia que a essa hora ela estava a fazer Deus sabe o quê no nosso quarto. Bati à porta e esperei cinco segundos até ouvir as molas gastas da cama a fazer o barulho que tanto odeio.
- A mãe chamou-te, burra. Não precisas de esconder nada – disse sem abrir a porta e com os braços cruzados. Fugi logo dali e fui ajudar a minha mãe com a loiça.
- Não tinhas nada de chamar nomes à tua irmã! – gritou o meu pai enquanto eu corria para a cozinha.
Sorri para dentro e olhei para trás. A Anabela nem tinha saído do nosso quarto. Não me importei, porque não era eu que iria levar o ralhete. Ajudei a minha mãe e a Anabela nada. Nem o Marco, nem a Anabela saíam do quarto.
- Mas chamaste a tua irmã? – disse a minha mãe zangada.
- Claro! Ela, ou não ouviu ou é surda! – respondi.
Fui eu que tive de ajudar a minha mãe e quando me fui deitar, a Anabela não estava no nosso quarto. Nós vivemos no apartamento do rés-do-chão. Ela podia ter saltado da janela para fazer Deus sabe o quê. Deitei-me e adormeci.
Sorri para dentro e olhei para trás. A Anabela nem tinha saído do nosso quarto. Não me importei, porque não era eu que iria levar o ralhete. Ajudei a minha mãe e a Anabela nada. Nem o Marco, nem a Anabela saíam do quarto.
- Mas chamaste a tua irmã? – disse a minha mãe zangada.
- Claro! Ela, ou não ouviu ou é surda! – respondi.
Fui eu que tive de ajudar a minha mãe e quando me fui deitar, a Anabela não estava no nosso quarto. Nós vivemos no apartamento do rés-do-chão. Ela podia ter saltado da janela para fazer Deus sabe o quê. Deitei-me e adormeci.
Acordei com o meu pai a gritar que estavam soldados a protestar na rua. Saltei da cama e, mesmo de pijama, corri para a janela do meu quarto. Estava a tentar ver se reconhecia a cara do meu irmão pelas várias fotos que já tinha visto.
- Pai, posso faltar à escola? – perguntei sem tirar os olhos da janela.
- Não iria fazer diferença, minha menina, não irias mesmo que dissesse que tinhas que ir. – riu-se o meu pai.
Vesti-me e agarrei o meu cesto de piquenique. Fui à florista mais próxima e comprei um cesto cheio de cravos. Queria dá-los a mãe e à Anabela e ao Luís. Fui de novo para casa, e dei dez cravos à minha mãe e deixei dez na cama da minha irmã. Logo a seguir, veio um soldado bater à porta.
- Pai, posso faltar à escola? – perguntei sem tirar os olhos da janela.
- Não iria fazer diferença, minha menina, não irias mesmo que dissesse que tinhas que ir. – riu-se o meu pai.
Vesti-me e agarrei o meu cesto de piquenique. Fui à florista mais próxima e comprei um cesto cheio de cravos. Queria dá-los a mãe e à Anabela e ao Luís. Fui de novo para casa, e dei dez cravos à minha mãe e deixei dez na cama da minha irmã. Logo a seguir, veio um soldado bater à porta.
- Lamento informá-los, Sr. e Sra. Abraca, mas o General Luís Abraca morreu na viagem para Portugal. Estava a entrar no barco e levou um tiro. Trouxemos-lhes tudo que era dele. – disse o soldado.
- Morreu? – perguntei surpreendida.
- Sim, menina Abraca, o seu irmão morreu – disse o soldado a pôr-se de joelhos para estarmos cara a cara.
- Então nunca vou conhecer o Luís? – perguntei com lágrimas nos olhos aos meus pais.
- Vais, filha. No céu irás conhecê-lo! Ele está agora ao teu lado e a abraçar-te! – disse a minha mãe com o melhor sorriso que conseguia fazer enquanto tentava não mostrar que estava a chorar.
- Morreu? – perguntei surpreendida.
- Sim, menina Abraca, o seu irmão morreu – disse o soldado a pôr-se de joelhos para estarmos cara a cara.
- Então nunca vou conhecer o Luís? – perguntei com lágrimas nos olhos aos meus pais.
- Vais, filha. No céu irás conhecê-lo! Ele está agora ao teu lado e a abraçar-te! – disse a minha mãe com o melhor sorriso que conseguia fazer enquanto tentava não mostrar que estava a chorar.