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Alguns poemas deO Pássaro da Cabeça
e mais versos para crianças
de
Manuel António Pina
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Com ilustrações deClara , José, Eduardo, Miriam,
Apolo, Emanuel, Catarina e Tiago
5º2
A Ana quer
A Ana quer
nunca ter saído
da barriga da mãe.
Cá fora está-se bem,
mas na barriga também
era divertido.
O coração ali à mão,
os pulmões ali ao pé,
ver como a mãe é
do lado que não se vê.
O que a Ana mais quer ser
quando for grande e crescer
é ser outra vez pequena:
não ter nada que fazer
senão ser pequena e crescer
e de vez em quando nascer
e voltar a desnascer.
A Ana quer
nunca ter saído
da barriga da mãe.
Cá fora está-se bem,
mas na barriga também
era divertido.
O coração ali à mão,
os pulmões ali ao pé,
ver como a mãe é
do lado que não se vê.
O que a Ana mais quer ser
quando for grande e crescer
é ser outra vez pequena:
não ter nada que fazer
senão ser pequena e crescer
e de vez em quando nascer
e voltar a desnascer.
Era uma vez
A Ana lê muito devagar,
só uma letra de cada vez.
Enquanto ela está a só uma letrar,
a Sara letra duas ou três.
A Ana tem tempo de lá chegar.
Os pês, os tês, os bês, os mês,
não fogem se ela se demorar.
A Sara acaba e começa outra vez.
A Ana lê e põe-se a pensar
nos quês, nos porquês, nos para quês,
e volta atrás para confirmar
porque, afinal de contas, talvez.
A Ana lê muito devagar,
só uma letra de cada vez.
Enquanto ela está a só uma letrar,
a Sara letra duas ou três.
A Ana tem tempo de lá chegar.
Os pês, os tês, os bês, os mês,
não fogem se ela se demorar.
A Sara acaba e começa outra vez.
A Ana lê e põe-se a pensar
nos quês, nos porquês, nos para quês,
e volta atrás para confirmar
porque, afinal de contas, talvez.
A Sara prefere entrar
nas palavras, nos desenhos, e ficar.
Existir nas histórias, em vez
de ver, viver; em vez
de pensar, de pausar, de perspicar,
ser ela a ser o que o herói fez.
Sai dos livros sem sair do lugar
e corre o mundo de lés a lés.
A Sara lê assim, a Ana mais devagar,
e depois ficam as duas a conversar.
A Ana conta: «Era uma vez...»
E a Sara: «Era eu uma vez...»
nas palavras, nos desenhos, e ficar.
Existir nas histórias, em vez
de ver, viver; em vez
de pensar, de pausar, de perspicar,
ser ela a ser o que o herói fez.
Sai dos livros sem sair do lugar
e corre o mundo de lés a lés.
A Sara lê assim, a Ana mais devagar,
e depois ficam as duas a conversar.
A Ana conta: «Era uma vez...»
E a Sara: «Era eu uma vez...»